terça-feira, 2 de novembro de 2010

Networking



Bebendo na casa de amigos, falávamos e contávamos da vida.

Falei da minha viagem de carona pelo Nordeste e do meu inusitado retorno:  um amigo, ex-vizinho me encontrou na estrada e me trouxe de Feira de Santana até a porta da minha casa em Muriaé.

Alguém disse:

"Tá vendo! Foi Jesus!"

Retruquei:

"Que Jesus que nada! Isso é NETWORKING!"

Porque afinal, tudo é uma questão de quem você conhece.

domingo, 3 de outubro de 2010

Matéria na Acessa.com

Jovem viaja de Muriaé a Jericoacoara, pegando caronas

O estudante de Direito, Ronan Bahia, queria passar o Carnaval em um acampamento do MST, mas terminou as férias no litoral cearense

Muita disposição e algumas placas com os nomes dos destinos foram suficientes para que o estudante de Direito, Ronan Bahia, fosse de Muriaé (MG) a Jericoacoara (CE), pegando caronas. A viagem foi feita no início de 2010, durante as férias da faculdade. A intenção era passar o Carnaval em um acampamento do Movimento dos Sem Terra (MST), na cidade de Frei Inocêncio, limítrofe com Governador Valadares.
"Chegando a Frei Inocêncio, percebi que os sem-terra já tinham se retirado. Estava perto do Carnaval e não tinha nenhuma programação. Entrei em contato com um amigo de Fortaleza, que me convidou para ir até lá. Como não tinha o dinheiro para a viagem, fui tentar uma carona." A aventura foi realizada sem que a família soubesse. Bahia pesquisou uma possível rota, com as principais cidades e confeccionou placas, com os nomes dos municípios.
"Então, fui para a cidade de Governador Valares, em alta estrada, e mostrei a placa que indicava Vitória da Conquista. Um caminhoneiro resolveu parar, às 16h, e seguimos a viagem." O percurso seria feito sem paradas, mas o caminhão — mais cansado que o condutor e o carona — precisou de um descanso. "Paramos em uma cidade chamada Padre Paraíso. O caminhoneiro esticou uma rede para ele dentro da carroceria do veículo e dormi também por ali. Acordamos cedo e às 10h ele me deixou em um posto fiscal, para pegar outra carona."
Em Vitória da Conquista, dois caminhões-cegonhas — carregando outros dois caminhões — pararam para dar carona ao estudante. "Eles já estavam levando um outro rapaz, que vinha de São Paulo. O caminhão de cima de um dos cegonhas virou a minha suíte. Fomos de Vitória da Conquista até Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana de Recife. De lá, peguei um ônibus até a capital do Pernambuco."
Já era quase Carnaval e Bahia foi direto ao shopping, em busca de encontrar um meio de ficar hospedado em Recife. Em uma lan house, o estudante buscou por ajuda de famílias que hospedam mochileiros, mas não teve sucesso. "Estava tudo lotado. Foi quando tive que ligar para a minha mãe. Ela tem uma amiga no Recife e conseguiu uma vaga nesta casa, por um dia." No dia seguinte, Bahia voltou a fazer contato com mochileiros e pôde se hospedar em outro local.
Galo da Madrugada, Praia da Pipa e enfim, Jericoacoara
O Carnaval estava garantido. "Fui ao Galo da Madrugada e experimentei um dos mais diferentes blocos que já vi. Passei também uns dias em Olinda e o Carnaval lá é fantástico." A folia terminou, mas a viagem prosseguiu. Em um carro de passeio, Bahia pegou carona para a cidade de João Pessoa. Conheceu a cidade e de lá partiu para o Rio Grande do Norte, com o objetivo de conhecer a Praia da Pipa, no município de Tibau do Sul. "É uma das praias mais lindas do mundo." No local, conheceu um italiano, uma austríaca e uma moradora de Niterói, que decidiram acompanhar Bahia na aventura.
Pegando mais uma carona, foi até a cidade de Natal. "O motorista foi tão generoso que fez um tourconosco pela cidade. Foi ótimo." De Natal partiram para Mossoró e de lá para Canoa Quebrada. O grupo foi se espalhando, mas Bahia seguiu determinado a chegar a Jericoacoara. Passou por Fortaleza, onde ficou hospedado por uma semana na casa de um amigo, e logo depois seguiu para Jericoacoara.
"A viagem foi fantástica. Visitei lugares que nunca teria oportunidade se fosse uma viagem normal. Conheci pessoas com quem jamais teria contato. Conheci um Brasil que o turismo convencional não explora. Viajei com um livro de história nas mãos e ia acompanhando os marcos de cada lugar. Esse estudo vai fazer diferença na minha vida, já que quero seguir a carreira diplomática. Preciso conhecer bem o Brasil."
Os locais visitados
Entre os locais que visitou, destaque para o Memorial da Resistência, em Mossoró, única cidade que resistiu a uma investida do grupo de Lampião; o Centro Cultural Dragão do Mar, em Fortaleza; as praias da Pipa e do Futuro, em Tibau do Sul e Fortaleza e a Usina de Paulo Afonso, movida pelo Rio São Francisco. Porém, a simplicidade dos cenários que percorreu foi o principal atrativo. "Nada como a Duna do Pôr do Sol, o entardecer no Sertão — que é o mais lindo do mundo — e, na cidade de Milagres [BA], a melhor loja de sucos já existente, com bebidas de todas as frutas nordestinas. O local sequer tem nome, mas vai ficar para sempre na minha memória."




http://www.acessa.com/turismo/arquivo/suaviagem/2010/09/29-ronan/galeria.swf

domingo, 19 de setembro de 2010

Lucien Freud e Francis Bacon




"Eu pinto pessoas", disse Freud, "não pelo o que elas são, não exatamente como elas são, mas como elas vieram a ser."

terça-feira, 31 de agosto de 2010

De Fortaleza à Muriaé



Cansaço. Muito cansaço.
Muito embora tenha visitado lugares lindos e diferentes de tudo que já vi, e  de ter conhecido pessoas fantásticas, chega um momento que é hora de voltar.


Levei alguns livros nessa viagem, mas sempre era mais interessante ler as paisagens fascinantes que se apresentavam ao menino acostumado a subir e descer as montanhas de Minas.

Em Fortaleza comecei a jornada de volta. O dinheiro, escasso, não permitia um luxo que eu havia planejado caso estivesse cansado para a jornada de regresso - como eu verdadeiramente estava.

Pois bem, sem dinheiro para o voo de uma empresa aérea, resolvi esgotar as possibilidades.
Fiquei sabendo da possibilidade de voos em aeronaves da Força Aérea Brasileira. O processo de inscrição é simples, bastanto ir até a base da FAB mais próxima e fazer a inscrição no Correio Aéreo Nacional (CAN).

Infelizmente não havia previsão de voos próximos da data pretendida.

Voltar de carona seria então a opção.

Fui até a rodoviária, e lá conversei com motoristas de ônibus intermunicipais em busca de uma carona até um posto da polícia rodoviária na saída de Fortaleza. 

Nesse posto da polícia, os policiais que pareciam agradavéis (ganhei um almoço) se converteram em uns canalhas (na concepção nelsonrodrigueana), de olho na minha câmera e no meu celular.
Sair dali era algo de extrema urgência.

Com ajuda dos atravessadores de notas fiscais (os caminhoneiros utilizam-se de uns moleques que ficam na beira da BR para não terem de descer do caminhão e irem até o posto carimbar um papel) consegui um senhor que me levou até Feira de Santana, na Bahia.

Descemos pelo interior cearense, pela 116. Só  aí eu fui entender a Caatinga.

O Ceará é encantador... passando por pequenas vilas e cidades, me tomava uma súbita vontade de ficar naqueles lugares, mais uma semana, pelo menos. E bonito de ver como, sei lá, o tipo de vegetação do lugar, as pessoas, o clima, tudo, se encaixa tão bem, que a gente se sente muito confortável em passar por ali.

Desci no posto fiscal na saída de Feira de Santana. Me dirigi o quanto antes para a estrada.
Alguns minutos depois, um caminhão vermelho encosta, e escuto três buzinadas.

Ao me aproximar, a porta se abre e escuto:

- Porra, Ronan! Que está arrumando por aqui?

Era um antigo vizinho de Muriaé. Sua família era dona de um mercado de frutas, legumes e hortaliças ao lado de minha casa. E agora havia ganhado um caminhão, e fazia fretes em tudo quanto é canto do Brasil.

E naquele dia, ele passava por alí.
Me levou até a porta da minha casa em Muriaé.

E pude então tomar uma boa ducha quente...






Missão Ouro Preto: 2o dia

2o dia - BARBACENA - CARANDAÍ - LAFAIETE - OURO PRETO (!!!)

BARBACENA - CARANDAÍ

Não foi nada - nada! - confortável dormir no banco da rodoviária. Eu não consegui dormir, toda hora acordava com o barulho do papel alumínio gigante do Alex. E o frio! Muito frio! As minhas roupas não davam conta. E ficava com medo de alguém levar nossa pinga.

Levantava, fumava um cigarro e pulava para me aquecer. Xabi e eu decidimos procurar um hotel. Sim, no dia seguinte teríamos toda uma Ouro Preto pela frente, de doideras, repúblicas, muitas coxinhas do Barroco, pinga com mel e etc. Vários etecéteras mais que pesaram no quesito "Amanhã vamos estar fodidos e dormir o dia todo".

Achamos uma birosca aberta, e perguntamos se conheciam algum lugar onde poderíamos alugar um quartinho (no dia seguinte pagaríamos).

- Tem um lugar alí ó, em frente a rodoviária, só chegar alí e gritar, que eles abrem.

Ok. Fomos lá. O cansaço, a fome, as costas partidas em dois fizeram com que nunca desejássemos tanto uma cama. Não uma cama, qualquer lugar fechado! Sem vento! Sem frio! Podia ser um jornal no chão! Um jornal no chão num lugar fechado.

30 minutos. Ninguém! Tampei pedrinhas no vidro. Ninguém! Estávamos fodidos. O jeito era sofrer. Sofremos, mas com dignidade por mais uma hora.

Decidimos ir ao centro, era longe, mas assim ao menos aqueceríamos o corpo.

Achamos um hotel, mas já tínhamso perdido o sono mesmo, queríamos algum lugar quente só. Entramos pra nos aquecer. E não é que tava quentinho lá dentro...

E o cheiro de café da manhã sendo preparado... mesmo imaginando ser caro, perguntei:

- tem como tomar café da manhã sem estar hospedado?

- tem uma taxa... 5 reais.

R$ 5,00 ! Muito barato!

Tinha muita coisa! Tinha esquecido o quanto são bons os cafés de hotéis!

De estômago cheio já podíamos seguir viagem.

LAFAIETE - OURO PRETO

 

...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Ouro Preto (fail) again

Puta que pariu!
Como eu poderia imaginar que três caras conseguiriam chegar facilmente em Ouro Preto!
OBVIO QUE NÃO!!
Totalmente fail!

A viagem mais cansativa de carona do século!
Chegamos sim, mas sofremos!
A gente sofre mas se diverte, porém... creio.

Ah mas estamos em Ouro Preto... agora só alegria.
Dois dias para chegar aqui...
Pô vai parecer que eu escrevo essas coisas para desmotivar as pessoas a viajarem de carona. Não! É super sustentável e você ainda faz amigos.

Mas lembre-se que sempre se conta com um tanto de sorte. Um conjunto de fatores, obviamente, auxiliam numa maior sorte. Um deles, não é viajar a três.
Resumindo um pouco a pequena saga: JUIZ DE FORA - OURO PRETO

1o dia - JF - BARBACENA


Primeiro, acordamos muito tarde. Chegamos no ponto de carona umas 3 e meia da tarde, no posto Graal, depois do bairro Barreira do Triunfo. É muito longe, então demoramos um tanto no ônibus. Teríamos que sair dali num carro direto para Ouro Preto, antes que escuressesse ao menos.

Uma hora depois, de muito revezamente no dedão (de vez em quando um da gente ia se esconder... essa tática funciona) decidimos os três tentarmos ao mesmo tempo, porém em pontos diferentes da estrada.

Fucionou! Um carro parou, perguntei se poderia levar mais três. O cara disse que sim, só que não teria lugar para as malas. Enlatados, seguimos.

Chegamos e já estava quase escurecendo. Foda, três caras, de noite! Nunca parariam. Mas esse pensamento tinha que ser eliminado. No fundo acredito na Lei da Atração, é uma baboseira gigantesca... mas tenho que acreditar nessas situações para não me desmotivar!

Não sabíamos direito onde pegar carona, ficamos no Nosso Pão de Queijo, mas nada. Nem caminhoneiros nem nada. Três caras! De noite!

Eu nunca pararia! Aí outro ponto importante a se pensar, que utilizo quando pego caronas. O pensamento simples e lógico: "Eu pararia o carro para mim?".
Por muitas vezes a resposta é Não. Mas tento não parecer na maior parte das vezes que sou um marginal ou assaltante. Sorria sempre, e faça a barba.

Custamos a compreender que estávamos fodidos.
Num ponto longe do centro, sem dinheiro e eu com um celular novo, sem meus contatos (havia perdido após uma festa na qual fui de Gandhi).

Fail. Totally fail. A hundred times fail.



Insístiamos em vários pontos da rodovia. E a hora ia passando.
Havia algumas putas por perto, e algumas vezes quando um caminhão parava, iludia-me que era para nós. As putas tinham uma grande vantagem.

Tínhamos duas opções.
Pegar um ônibus até Lafaiete, e de lá pra Ouro Preto.
Dormir por lá, e sair no dia seguinte bem cedo.

Abandonamos a idéia de caronar definitivamente.
E eu que queria incutir a sustentável idéia de viajar de carona no Alex e no Xabi, fui bastante eficiente no oposto! Acho que nunca mais iriam caronar pra qualquer lugar que seja.

Mas, sempre digo, caronar é incerto!

Fomos para a rodoviária, que ficava ali pertinho.
E para a minha pergunta de quando sairia o próximo ônibus para Ouro Preto ou Lafaiete, a resposta: "meu querido, só amanhã."

Ótimo.

A primeira e mais segura e confortável opção já estava completamente descartada.
Teríamos que trabalhar, agora, a segunda para que ela se tornasse também uma opção confortável, e acima de tudo segura.

Eu havia perdido meu celular algumas semanas atrás (fui de Gandhi numa festa, sem bolsos... e me alcoolizei... tsc tsc) e o meu novo não tinha quase nenhum contato. E como não havia contado com o imprevisto (sempre conte com imprevistos!) não peguei o número de ninguém que morasse em cidades pelo caminho até Ouro Preto.

Solução temporária encontrada: Beber.
Teríamos muito tempo pra isso.

E enquanto isso, no Nosso Pão de Queijo esperaríamos alguém para abordar pessoalmente e perguntar se nos levaria.



Ninguém.

Dormir na rodoviária não é algo agradável. Definitivamente, mas é algo que pode ocorrer quando nos propomos a essa forma de viajar.
A a maldita rodoviária de Barbacena então é o lugar que mais faz frio em Barbacena!

E porque - maldição - não fazem bancos inteiriços! Os bancos eram aqueles de sala de espera, cadeiras independentes unidas por uma barra de ferro, cumprem efetivamente a sua real e única função que é servir de assento, mas para dormir é algo BEM desagradável.

Frio dos infernos. Meio bêbado com uma pinga terrível. E deitados em bancos de consultório.

Todos os meus casacos, duas calças e leves doses de Tangirú, me mantinha aquecido.

Alex, precavido, tinha uma manta metálica para emergências, e se enrolou naquele papel alumínio gigante.

Xabi se enrolou numa toalha de banho. E usava meu gorrinho peruano.

Chamávamos atenção.

Bêbados se aproximavam, um deles nos presenteou com balinhas. Ofereci um gole de Tangirú, mas ele disse que estava parando de beber, muito embora entregue pelo seu imenso odor de álcool proveniente da transpiração. Não devia gostar da Tangirú. NINGÚEM DEVE BEBER TANGIRÚ!

E nesse cenário, dormimos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Gastronomie

Depois da grande e divertida loucura que foi caronar pelo Nordeste, afastei-me de viagens crazy, e invariavelmente do blog pelo motivo do retorno às aulas. Estudei como um cão.

Claro, um blog de viagem não se faz, necessariamente, ao se estar em trânsito. Mas estava ralando na facul, e sem tempo pra qualquer coisa não-jurídica.

Retornei com esse post, porque semana que vem agora sigo para Ouro Preto. Com dois franceses que estou hospedando aqui em casa, dois gastronomistas que vieram estudar a exquisite culionarie brasiliéne e vão viajar pelo Brasil.

Alex e Xabi, duas pessoas fantásticas.


]

Vieram pra cá pra conhecer a culinária mineira, daqui vão pra Ouro Preto e depois Belo Horizonte, e depois seguirão para o Nordeste. Já cansei do comodismo do período letivo e como uma visita a Ouro Preto, nunca faz mal a ninguém... irei também. De carona, lógico.

Mas já que os dois são gastrônomos, falemos de comida, no momento.

Eu sou chegado a cozinhar. A questão é que ninguém é chegado no que eu cozinho. O que me torna um apreciador (?) solitário das minhas incursões gastronômicas. As vezes compro livrinhos em bancas, esses de culinárias de países e arrisco alguma coisa mais ousada do que sopa de ervilha ou caldinho de inhame.

Recebi os dois com um duvidoso autêntico cuzcuz nordestino! Que comi horrores em Natal, e adorei.
No meu mundo doentio, constatei que apenas por comer, absorveria as habilidades do preparo, excluindo inclusive a necessidade de uso da cuzcuzeira. Obviamente,não saiu nada agradável, e nos dispusemos a comer apenas quando estávamos muito bêbados.

Eu e minha culinária atípica.

Para completar a noite, a que não tem perna mas dá rasteira, Pitú, nos fez esquecer (se fez!) do meu fracasso no fogão.

Mas eu ainda podia contornar a situação, e ser
Tendo dois gastrônomos franceses em casa, me senti na obrigação de levar - compulsoriamente - meus guests a uma imersão na minha alimentação do dia-a-dia.

Sempre que conseguíamos levantar antes das 14h, almoços no Restaurante Universitário. Infelizmente fomos surpreendidos em um dos dias pelo infame cozido Húngaro (o que faz eu ter uma péssima imagem da alimentação na Hungria.

E pela noite, uma autêntica gastronomia universitária, ora preparado por mim, ora nos bares mesmo.

Como por exemplo:

O TORRESMO DO BIGODE.

O torresmo do Bigode merecia um tópico a parte pela sua enorme crocância, e paradoxalmente, suculência,  e alto teor de lipídios.
Não sei o que diabos eles fazem com aquele torresmo, alguma reza forte, um ritual específico ao ceifar a vida do suíno, mas a gordurosa e nada saudável iguaria é inacreditavelmente delíciosa.

Mas nem só de torresmo vivemos (por mais que queiramos), e aproveitando esse post gastronomique, listo coisas obrigatórias para comer em Juiz de Fora. Se você não comeu, corra e mergulhe no pecado mais gorduchinho e prazeroso (depois da luxúria).

1. Pizza de queijo do futrica (véi! uma pizza toda de queijo! TODA! até a massa... enfim...)
2. torresmo de tira do Bigode
3. Costela ao bafo no Bar do Passarinho
4. Picanha na pedra do Las Lenhas
5. Pão de mel do Las Lenhas (o melhor do mundo)
6. Bolinho de bacalhau do Bigode
7. Ovos mexidos com bacon da Maxi Pão
8. Vaca atolada no Prócopão
9. Mexidão clássico do Galdino
10. quitutes variados na feira de domingo da Av. Brasil (6 empadinhas por 1 real. 6!!!)

Ó gula!

Que venha Ouro Preto - e as coxinhas de frango do Barroco!

Enquanto isso seguiremos com Baco e uma majestic cuisine.

sábado, 10 de abril de 2010

Coliseu, Kombi e Tierra del Fuego

O que levam pessoas a realizarem grandes viagens?
Viagens que aos olhos da maioria soariam como desconfortáveis, cansativas, absurdas, são na verdade muito prazerosas e verdadeiras comprovações que a melhor escola é a vida, para quem as realiza.

Ao entrar na faculdade, nas muitas vezes que andávamos por aí, bêbados sonhadores, por bares de Juiz de Fora e reuniões diárias no meu apartamento, divágavamos sobre a possibilidade de comprarmos uma Kombi ao término da faculdade, e viajarmos com a nossa possante, a nossa La poderosa pra galerão para a terra dos alfajores e de el Diego, Argentina. Mais especificamente, para o extremo sul da Argentina, la Tierra del Fuego.

A idéia adveio da alcoolizada formação do COLISEU - um coletivo que sinceramente não funciona, e no qual nos empenhamos - somente - em efusivas discussões sobre mulher-futebol-política (necessariamente nessa ordem) e eventualemente alguma coisa sobre direito (que não continua tão lindo mais, quanto nos parecia no primeiro período).

Seria simples a empreitada.

Cogitamos abrir uma conta, na qual todo mês cada um depositaria a sua parcela. Coisa pouca, algo em torno de R$ 50,00.
No final, com o valor pretendido daria pra comprar uma Kombi 84, e mais uns acessórios como churrasqueira, uns bancos, mesa, redes, barracas, um som bacana.
Prosseguindo na idéia da conta, Mamão propôs, que com o dinheiro aplicado, poderíamos ir realizando investimentos - inclusive de risco - pra tentar multiplicar os parcos recursos, e quem sabe, ao fim, a Kombi desse lugar a um confortável micro-ônibus (até uma van escolar tava valendo).

Ninguém tinha a idéia romantizada da viagem de Kombi pela América Latina. A questão era justamente ser um meio para chegar.
Não tinha que ser especificamente uma Kombi, a Kombi surge do fato de não termos um puto qualquer no bolso, e associada a isso, encaixar no quesito grande caixa sobre rodas pra caber muita gente e tralha.

Mas cada vez que íamos - bebâdos e sonhadores - pensando mais na viagem, a idéia romantizada da Kombi, enchia nossa imaginação.
E de uma simples necessidade fática devido as nossas  inexistentes escassas finanças, a Kombi passa a fazer parte da viagem, como uma personagem a mais. A viagem tinha que ser de Kombi. E não qualquer Kombi, mas aquela de duas cores, ícone clássico dos anos 60 e da contracultura.


Separadamente, íamos buscando pela internet relatos de alguém que tivesse realizado tal viagem. E quando nos reuníamos, proponíamos uma coisa ou outra ao roteiro.

Até que... os semestres passaram voaram. E nossa promessa não vingou.

A faculdade está no fim, e nada da nossa sonhada Kombi e da nossa viagem crazy até o extremo sul da Patagônia.


Na medida que vamos crescendo, crescem-se as responsabilidades, mas o que nos impede de realizarmos uma vontade?
O que nos faz persistir dizendo "eu tenho vontade de" e nunca efetivamente realizar, concretizar a vontade em feito.

Só se vive uma vez. E nem adianta pensar que a vida é longa, que dá tempo de fazer muita coisa.
Na verdade não.


As pessoas criam expectativas em torna da gente, e essas expectativas te enredam como visgos.
Te aprisionam, e não te permitem sonhar, nem viajar (no sentido que preferir), nem ser o que se é.



Alguns relatos inspiradores de viagens inspiradoras:

5 amigos terminaram a faculdade e decidiram, fazer uma viagem de bicicleta de Beijing até Paris.
http://www.fueledbyrice.org/route.html

O grande aventureiro brasileiro, o economista, Amyr Klink, realizou a travessia do Atlântico sul num barco a remo. A viagem levou 100 dias.
http://www.amyrklink.com.br/conteudo.php?page=biografia

O desconhecido Rubens Pinheiro que saiu de Salvador numa viagem de 18000km rumo a Nova Iorque.
http://www.ondepedalar.com/mobile/viagens_bike/relatos_viagens_bike/da-bahia-a-nova-iorque-de-bicicleta.html

quarta-feira, 17 de março de 2010

6000km



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6000km percorridos.  35 dias na estrada.

Porque valeu?
A priori, foi um mês que tirei pra mim. Para viajar por viajar. Sem luxos. As vezes com um dinheiro a mais, as vezes sem dinheiro algum. Indo para o onde o vento me levasse, ficando o tempo que cada lugar pedia. Pode ser piegas, mas boa parte de tudo isso foi para refletir mesmo. E assim me conhecer.

Viajei pelo sertão da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará, conheci a terra do Lulita, Garanhuns (que fica na serra e faz um frio danado) e me perdi de encanto pelo Velho Chico - e entendi o fascínio que gerado por ele - com suas águas verdes e seus cânions ocres.
Experimentei o carnaval de frevo e maracatu no Recife, e da tradição das fantasias e ladeiras de Olinda.

Valeu demais por experimentar a tapioca de carne de sol em João Pessoa, por nadar com golfinhos e pela falésias intermináveis de Pipa, caminhar por Ponta Negra e subir as dunas de Genipabu em Natal, me matar com Pitú em Mossoró, pelo samba, chorinho e caranguejos de Fortaleza e o universo paralelo - e aquela vontade de ficar pra sempre - proporcionada por  Jericoacoara.

Jericoacoara





Ainda não me inspirei para escrever sobre a minha experiência em Jericoacoara, mas deixo as impressões do Marcos, el loco de Barcelona... um grande amigo que fiz nessa viagem.
Pienso en las razones que uno puede tener para visitar un lugar como Jericoacara:
un lugar ideal para practicar kite surf, o para hacer sunboard, o un lugar para simplemente "desconectar" del mundo?
Creo que todos los motivos son validos cuandos se trata de Jeri.
Pero la aventura de Jericoacoara comienza antes, antes de llegar.
Partimos desde Fortaleza por la manana y despues de casi 5 horas llegamos al pueblo de Jijoca, alli nos esperaria una "jardinera" (un jeep bus) que nos trasladaria a Jericoacoara.
Allì es donde comienza la aventura, el recorrido comienza con un tramo de trocha de color marron arcilla para luego entrar en pleno desierto de la Reserva nacional de Jericoacara, un caminito de arena blanca nos va dando una buena premonicion, el acceso esta restringido solo para boogies y 4 x 4 autorizados por la region y no hay transporte publico para ir desde Jijoca a Jericoacara, solo unas 4 x 4 que por 10 reales te llevan a Jeri.
Derrepente se revelan unas grandiosas dunas de arena blanca, derrepente un oasis, derrepente unas lagunas verdes,derrepente vacas y toros en pleno desierto, y derrepente estamos todos alucinados...silencio total...superamos las espectativas.
Llegamos al pueblo y nos comentan que no hay electricidad que alumbre las calles, esta prohibida, no hay correo, solo la luz de las casas alumbra indirectamente las pocas calles de Jeri, y las calles son de arena blanca, asi como lo oyen, aqui no hay pavimento, y la arena es la misma que encuentras alrededor de las dunas o en la playa, por lo cual solo se puede caminar descalzo o en sandalias, y al hacerlo tus pies se hunden en la arena.
Todo es muy tranquilo, no hay mansiones, ni centros comerciales, ni grandes clubes o discotecas.
La plaza principal es un campo de arena pesada en donde un pequeno estrado con un par de parlantes nos revela un evento, se esta homenajeando al gran poeta Cearense "Patativa", si, aquel de la literatura de cordel, al poeta de la calle, unas sillas de plastico alrededor y eso es todo.
Jeri es Sencilla, sin pretenciones, con gente que viene a desconectar, con gente que viene por unos dias y termina quedandose una vida como Irene la Capoerista Argentina, o Marcello el Pizzero Italiano, o aquellos que llegaron luego y fueron creando una de las 140 posadas de Jeri.
La playa principal es espectacular, el atardecer en la dunas es magico y el cielo!... bueno... el cielo y sus constelaciones es quizas lo mas espectacular.
Hay mucho por hacer en Jeri, recorrer las diversas lagunas, pasear a caballo, caminar, hacer deporte etc..pero lo que es prioritario en Jeri, es simplemente elevar los sentidos y percibir lo que este lugar desconectado del mundo tiene para ofrecer, aquella energia especial, cuando eso sucede, hay un riesgo, que te quieras quedar, muchos lo hicieron y muchos lo haran, yo al menos, desde el primer dìa, decidì que en un lugar como Jeri, solo una senal me dirìa "es tiempo de partir", ... creo que hay pocos lugares en el mundo como Jericoacara, y hasta ahora confirmo que es lo mejorcito que he visto en Brasil,...y asì, los dias fueron pasando, la senal llegò; dejo Jeri y me despido del companero Ronan que pega la vuelta para Minas.
Hoy escribo desde Sao Luis de Maranhao, desde otro Brasil, pero esa, esa es otra historia!.
Local Ceara - Brasil

segunda-feira, 8 de março de 2010

10 dicas para pegar carona

Caro leitor, você alguma vez já pegou carona? Você já imaginou contornar todo o litoral brasileiro apenas no dedão? Você acha que isso é papo de homem ou papo de maluco?

tripping
Onde nós estamos, Fred
Pois saiba que o gesto clássico com o polegar no ar foi um símbolo do Brasil dos anos 60, quando ainda havia poucas estradas e automóveis em nosso território. Infelizmente, sem o mesmo romantismo de antes, a carona hoje sofre com o preconceito, taxada por muita gente como uma prática quase restrita a hippies mal cheirosos, policiais fardados, andarilhos e prostitutas.
Provando ser possível resgatar o uso e a importância desse transporte alternativo, surgiu em 2006 a Expedição Carona Interativa, projeto que já contornou todo o litoral brasileiro somente na carona e agora pretende mostrar a viabilidade dessa prática em outros países da América do Sul.
Durante as etapas nacionais, que duraram cerca de cinco meses entre Curitiba e São Luis do Maranhão, foram registrados centenas de relatos e fotografias no blog da expedição, divulgando informações de lugares paradisíacos e desconhecidos, além de incontáveis histórias de curtição que deixaria até o Dr. Love com inveja!
Para ajudar os leitores que ainda não descobriram a incrível sensação de viajar dessa forma, a Expedição coloca aqui algumas dicas básicas de como pegar carona com tranqüilidade e curtir o lado bom da vida!
Antes de tudo, o aspirante a caroneiro deve ter consciência do seguinte lema: “nunca dar trabalho ao motorista”. Deve-se facilitar ao máximo a vida do condutor, para que ele possa identificar o caroneiro, parar com segurança e forncer carona sem nenhuma dificuldade.

1) Viaje sozinho ou em casal

Carona não é fácil, imagine então viajar junto com mais de duas pessoas e achar espaço para embarcar todo mundo. Sozinho você consegue encarar as caronas mais impossíveis, em lugares que às vezes mal cabe sua mochila.
carona
O ângulo certo do dedão faz toda a diferença
Viajando em casal, a mulher desponta uma atenção maior do motorista, fazendo muita gente encostar para ajudar. Já dois homens, por exemplo, inibem o condutor solitário, que mesmo disposto a dar carona, não vai parar por falta de segurança, pois no pensamento dele caso aconteça algo são 2 contra 1.

2) Se posicione no lugar certo

Na beira do acostamento o motorista precisa ver você. Para que isso ocorra com maior tranqüilidade, o trânsito tem que estar lento, devagar. Poucos têm a boa vontade de socorrer um viajante quando o carro está voando a 120 km/h.
Deve-se procurar um ponto de redução de velocidade, após cruzamentos viários, entroncamentos, trevos, lombadas ou postos da polícia rodoviária. Se nada disso estiver por perto, fique num trecho reto da estrada, sem subidas, descidas ou curvas perigosas. Certifique-se que o acostamento é seguro, longe de buracos ou desníveis para o motorista parar com facilidade.

3) Fuja da área urbana

Locais urbanos circulam muita gente, dando uma sensação de insegurança para o motorista amigo da carona.
Sem falar das saídas de muitas cidades, com periferias perigosas para qualquer cidadão. Nos grandes centros a melhor coisa a fazer é pegar um ônibus para uma cidadezinha próxima, onde possa descolar carona sem medo.

4) Carona com mochila nas costas

Mesmo estando cansado de carregar aquela mochilona pesada, na hora de tentar carona é bom fazer um sacrifício mantendo ela nas costas, pelo menos na primeira meia hora de espera.
carona2
- Eu sei desenhar. Dá carona?
O condutor que passar por você, acaba deduzindo que se trata de um viajante e não de um malaco qualquer querendo aprontar alguma. O tamanho da mochila também faz comover o motorista, pois muitos encostam para perguntar se está perdido ou precisando de ajuda.

5) Diga seu destino

Leve um caderno de desenho para escrever os destinos almejados, como se carregasse uma plaquinha indicativa. As caronas passam a ser mais precisas, sem a necessidade do caroneiro fazer muitas conexões.
Tome cuidado com o destino escolhido. Às vezes, em locais de pouco movimento, não é recomendado o uso dessa estratégia, pois pode restringir demais as opções de carona.

6) Leve um bom mapa

Decore todas as ruas e cidades da região onde você está. É comum o motorista parar e dizer que só vai, por exemplo, até o Cafundó do Leste. Se não souber onde fica tal fim de mundo, poderá perder caronas importantes e acabar não saindo do lugar.

7) Nunca fique parado

Se não está conseguindo ir para o lugar desejado, tente uma cidade mais próxima, uma carona curta, ou um outro ponto de carona.
caroneiro
Estou nesse mesmo exato local há 22 anos, 7 meses e 14 dias, seu fedelho mimado
Ficar muito tempo parado desperta olhares de curiosos e malandros, que sempre aparecem depois de certa hora, até mesmo nos lugares mais despovoados.

8 ) Conte com a ajuda dos outros

Na dificuldade, procure um posto de gasolina ou da polícia rodoviária. Converse com os frentistas e policiais sobre tua carona pretendida. A maioria vai querer te ajudar. Quando alguém parar para abastecer, por exemplo, tente uma abordagem direta.
Por mais que seja constrangedor, fale o que pretende, seja simpático e educado. Em lugares turísticos, fique de olho nas placas dos carros que estão estacionados. Perguntes ao guardador quais deles estão lotados ou com pouca gente. Seja cara de pau. Em cada quatro tentativas, uma dá certo.

9) Descole carona com antecedência

Chegando nos povoados e vilarejos, converse com o povo sobre as caronas que pretende fazer amanhã ou nos dias seguintes. Em lugares menores, todo mundo se conhece e é muito comum alguém lhe informar quem costuma ir para tal lugar com freqüência. Não é sorte e sim comunicação.

10) Esteja preparado para tudo

As caronas podem variar desde um confortável carro de passeio, com ar condicionado e companhias agradáveis, até pairar por caçambas sujas de caminhões e sinistros paus-de-arara.
pegando-carona
Pegar carona é um estado de espírito!
Sem humor e gosto pela aventura, dificilmente conseguirá viajar de carona com prazer, curtindo cada situação encontrada como uma nova experiência de vida. Mas cuidado! Depois da primeira trip com sucesso, você verá que pegar carona vicia e causa dependencia.


Extraído de: http://papodehomem.com.br/10-dicas-para-pegar-carona-o-resgate-de-um-estilo-de-vida/#comment-126947

segunda-feira, 1 de março de 2010

Fortaleza: Domingo, 28 de fevereiro

Depois de dois dias tentando carona para sair de Mossoró, cheguei a Fortaleza.
No primeiro dia, fomos eu Thiago e Marco para a saída de Mossoró, sentido Canoa Quebrada.
Depois de umas boas 4h e a testa queimada de sol, voltamos eu e Thiago. Marco seguiu com um taxi até Canoa.
Carona é sorte, e tem as suas regras. Uma delas é, nunca tente carona em tres, ainda mais se forem tres homens.
A ordem de facilidade é:
2 mulheres
1 mulher
1 casal
1 homem
2 homens
depois já vai culminando para níveis absurdos de dificuldade.

No segundo dia, planejei ir cedo para o posto ipiranga, na saída da BR 304 de Mossoró.

Exibir mapa ampliado
Com 2 reais no bolso, nem poderia cogitar pegar ônibus. Sabe-se lá quando eu precisaria dessas escassas moedinhas.
No dia anterior haviamos tentado carona ali na saida do posto, com plaquinha, porém nao foi nada eficiente nossa tentativa.

Eu estava doido pra ir pra Canoa Qubrada, porém sem dinheiro no bolso para taxi. Tentei até o ultimo momento. Começou a escurecer. Já era. Carona de noite é furada. Não é impossível. Mas já estava vencido pelo cansaço também.

Nao havia quebra-molas, e os carros nao iriam parar por nada. Os caminhões já haviam arrancado, e também nao iriam freiar, a menos que fossemos tres loiras bundudas com uma minisaia.


Minha tática era então a aproximação corpo a corpo.

Perguntei a alguns caminhoneiros que estavam almoçando ao lado do caminhão:
- fala amigo, desculpa incomodar aí, mas vocês não estão indo no sentido Fortaleza não?
- gente tá indo sim, mas estamos esperando carregar o caminhão. gente saí só amanha de tarde.

Não, nada de esperar. Já havia aproveitado bastante Mossoró, e além do mais não podia ficar uma noite mais, e sacrificar uma noite a menos ou em Canoa Qubrada ou em Fortaleza.

Perguntei a alguns outros caminhoneiros e carros que paravam na bomba. Mas nada.
Definitivamente sair de Mossoró de carona é um pouco complicado.

Fiquei por 4h tentando. Umas 17h da tarde, já escurecendo, fui ao restaurante do posto, desconsolado.
Foda!
Sem dinheiro, perguntei se o café era cortesia.
"é sim menino"
Tomei um, dois, tres de uma vez.
Sentei na mesa, abri o mapa, analisei a distancia que ainda teria que viajar, praguejando o mundo internamente - estava rabugento nessa hora - e pedi mais um café.
Um senhor se aproximou:
"isso aí é cd pirata é?"
Sim, ele pensou que eu era vendedor de cd pirata, olhando pro meu mochilão e pra minha cara de estou-carregando-essa-mala-ha-20-dias.
- não, não amigo... só estou viajando por aí mesmo.
- ahhhh...
Se ele não virasse as costas tão rápido, iria convidá-lo para tomar um café cortesia comigo. Queria conversar.

Tomei mais um café, e sob alguns olhares curiosos, comecei a escrever uma nova placa: FORT. (nao cabia fortaleza no A4). E saí do restaurante para perto das bombas outra vez. Voltar para uma noite mais em Mossoró seria a aceitação do fracasso. E era noite de luau em Canoa Quebrada.

Levanto a placa uma vez mais para um caminhoneiro que estava de saida do restaurante:
- Fortaleza! Aracati?? Canoa???
- Ahnn... tô indo pra lá.
- FORTALEZA?? Sério???
- Bora fi...

Não acreditei, e sai correndo com a mochila de 20kg todo desengoçado pro caminhão.

O cara é muito doido. Caminhoneiro doidera mesmo.
Mal entrei no caminhão:
- TU TÁ ARMADO??
- não po, que isso.
- ENTÃO SIMBORA!
E partiu dando uns tapas na porta do caminhão.


Demorou até termos confiança um no outro. E muito embora eu tivesse afirmado que não estava armado, só depois de haver contado a minha história, dos lugares que havia passado, das pessoas que havia conhecido o clima melhorou um pouco.
Foi uma das caronas mais agradáveis, autoexplicativas da vida de caminhoneiro e nonsense de toda essa amalucada viagem.

O cara me contou táticas pra não dormir: "Cocaína, desobese e whisky se tiver com grana, conhaque se tiver duro, tiro e queda.".
"Em dia que eu rodo 12h eu me sinto mal, pra eu render, e ficar tranquilo, rodo 18h por dia. Já rodei 32h seguidas pra não perder o prazo da entrega."
De policiais de beira de estrada: "Policial honesto é uma merda! Bom é policial corrupto, que cobra uma propininha pra facilitar pra nóis".
Passamos de discussões acirradas sobre o sistema educacional e sobre putas que fumam crack, e pela dura e perigosa vida de caminhoneiro.
Passei a entender o caminhoneiro nessa viagem. Passar a vida na estrada, estar em casa por 10 ou até 5 dias só no mês. O Brasil é um país de dimensões continentais, a vida sobre rodas se torna necessária para a efetiva integração de cada rincão, do Oiapoque ao Chuí. E oportunistas surgem disso. E além dos acidentes (que inevitavelmente vão ocorrer, questão de probabilidade) assaltos, sequestros e assassinatos, são crimes frequentes na vida do caminhoneiro.
Transportar cargas de R$200.000, R$500.000, R$ 1 milhão ou mais por todo o Brasil, é algo bem arriscado. Mas riscos e estatísticas são irrelevantes e quando se tem que encher o prato da família em casa, faz-se o que deve ser feito, e esperar o abraço e o beijo da mulher e filhos na curta estadia em casa, a espera do próximo frete.

***

Passando na entrada de Aracati, de onde se deve tomar a van até Canoa Qubrada, analisando meus 2 reais no bolso. E que já estava de noite, desisti. Se eu não encontrasse um caixa eletrônico em Aracati, poderia nem conseguir ir para Canoa naquela noite.
Decidi ir até Fortaleza.

Chegando em Fortaleza o cara parou o caminhão, e tentou desenrolar com uma puta, eu havia lhe falado que nao toparia essa empreitada, e que caso a negociação se efetivasse, eu esperaria do lado de fora do caminhão. A puta não fez o preço que ele queria, não tive que esperar do lado de fora e seguimos até o Posto Menino Jesus III. Longe pra burro do centro de Fortaleza.
- moleque, voce tem como fazer alguma ligacao aí?
- nao cara, perdi meu cartao, meu celular ta sem bateria e mesmo se tivesse com, estou sem credito.
- beleza, fica com esse cartao aqui, ta cheiinho, 40 unidades. quando eu tiver por minas, voce me mostra um puteiro massa.

Agradeci a boa vontade. E fiquei na de mostrar o puteiro massa pra ele em Muriaé, tentei explicar que é bem complicado essa associação por lá, mas ele insistiu, e assim ficou acordado.

***

Cheguei no posto, que é uma parada de pernoite de caminhões, e fui recebido pelo segurança com o cacetete em punhos:
"pode sair! pode sair! que tu ta querendo??"
Mais uma vez, expliquei toda a história para ele, e que precisava de um orelhão para tentar localizar um amigo em Fortaleza.

Ele nao acreditou muito. Ainda pensou que estava ali para assaltar os caminhoneiros.
A área é bem perigosa. E é comum assalto e sequestros a caminhoneiros ali.

Tentei muitas vezes localizar o André e nada. O maluco não tem celular!
O Moura estava em São Paulo pro show do Coldplay, e foi quem ia me ajudando a localizar o André em Fortaleza. Me passava uns numeros provaveis, e ligava pro numero do orelhão do posto me informando de um provável paradeiro do André.

Nessa hora, o segurança já começou a acreditar (e ter um pouco de pena).
"mas menino, você não é muito doido, pra sair por aí, sem dinheiro, longe demais da sua casa? eu? eu nao faria isso nunca... tá dooido."
E me contou, que nunca tentou carona. Nunca. Que era uma coisa dele, e me contou que uma vez quando morava no Rio, no Parque Bela Vista, escutou sobre uma construtora que estava empregando no Leblon. Sozinho, com força e sem dinheiro, seguiu a pé em busca do trabalho. Cruzou praticamente todo o Rio, saiu as 5h da manhã, chegou lá as 16h da tarde.
Perguntou sobre o emprego. E era verdade (sim até então era só um boato). Conseguiu o emprego. Porém só começaria no dia seguinte. Olhou para os lados pra ver se conhecia alguem para pedir dinheiro emprestado, e nada. Teve que voltar a pé também. Para trabalhar no dia seguinte as 6h da manhã.
Estou contando essa história, porque no momento me marcou. Escutar alguém que antes me via como um assaltante, e depois teve a confiança para se abrir, e contar passagens da sua vida. E mais uma história de sobrevivência de tanta gente como a gente.

***

Consegui falar com o André:
- Maxu tu tá longe que só a porra! Aí é perigoso pra caralho... Tô sem carro, senao eu ia aí te buscar. Peraí que vou ver com algum amigo, e te ligo.

O segurança me recomendou nao ir pegar onibus nessa hora, já que teria que caminhar um pouco, e ficar numa área mais urbana, mais perigosa do que onde eu estava.
Solução, ou esperar algum amigo do André, ou dormir por ali, esperar amanhecer e seguir no busao. Com meus 2 reais.

Me disse que nao teria problema se eu dormisse por ali, mas teria que sair cedo, já que já tiveram problemas com gente que pernoitaram ali. Ele confiava em mim, mas os caminhoneiros que me vissem ali, provavelmente não. Então me acordaria as 5h da manhã para que eu seguisse rumo ao centro.

O André ligou:
"Maxu, meus amigos tao com medo de ir aí essa hora, dorme numa pousada aí perto, que amanha eu te dou o dinheiro..."
Ah poderia ir para uma pousada, mas nem, preferi ficar por ali, o papo estava bom.
Fui para a sala de TV, abri o saco de dormir, e fiquei por ali vendo Big Brother (a segunda vez que via, a outra vi em Ponte Nova na casa da Denise) até pegar no sono.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mossoró

Inicialmente o plano seria uma noite em Mossoró, mas essa cidade me cativou além do esperado.

Conheci muita gente massa, noites malucas e festa com piscina e banda.



Um dos orgulhos do povo mossoroense é o fato da cidade ter resistido a invasão do bando de Lampião. Importantes membros do bando caíram por ali, inclusive o temível Jararaca (enterrado por ali mesmo, no cemitério da cidade, palco do confronto decisivo). As marcas dos tiros ainda estão na igreja do Centro.

Primeira noite tomamos um vinho e comemos um macarrão que o Marco (o italiano doido que conheci em Pipa e que decidiu seguir viagem comigo) preparou.

De cara já me apaixonei pela vó do Thiago, nosso anfitrião.

Segunda noite, depois de uma tentativa frustrada de ir pra Canoa Quebrado (o Marco tava com dinheiro e seguiu), saí com os amigos do Thiago.

Fomos pra convivência (um lugar bacana de sair lá). Fiquei bebado. Com a tão famosa Pitu (responsável por minhas maiores dores de cabeça do carnaval de Olinda).





Dali encontramos um povo doido, esse povo doido deu mais bebida pra gente e depois esse povo doido saiu correndo pelado pelas ruas de Mossoró. Bebemos mais. E acabamos no Trapiche (vulgo, embaixo da ponte). Lugar onde o povo se junta. Para que? Beber, oras!

Não lembro muito do fim da noite - essa tal de Pitu é foda. Só sei que no final estava tomando (mais) Pitu, e tirando gosto com Hi-fi de vodka genérica.

No outro dia foi o churras louco. Aniversário do Stefano, um italiano que está por lá fazendo intercâmbio.



Eram para ser 5 bandas. Só tocaram duas. Eu me lembro de uma.

A polícia chegou acabando com tudo.

Ai, maldito aparelho repressor de diversão.

Ao menos gostei muita da banda que lembro haver tocado. Troquei uma idéia com o Artur, vocalista, não lembro do que falamos, ele não deve lembrar também (ele queria a minha camisa de presente, mas nem rolava, ja tava viajando sem roupa!), mas sei que achei ele, a sonoridade, o conceito e as letras da banda massa. Eles tem um Myspace, vale a pena escutar.















Mossoró é o que há.

Amanhã sigo para Fortaleza.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Saída de João Pessoa, chegada em Pipa

Fui para o terminal de integração que é em frente a rodoviária de João Pessoa.
Aproveitando que estava ali perto (e já me esquecendo um pouco, de que deveria ir de carona) fui lá perguntar quando era o ônibus até Goianinha (tem que ir até aí, e depois uma van baratinha até Pipa).
- ah ônibus, só direto até Natal. aí você pede pra descer em Goianinha.

O cúmulo do absurdo. Você tem que pagar a passagem inteira até Natal e descer na metade do caminho.
Indignado recuperei as energias caronísticas e decidi ir pra estrada.
Perguntei pra alguns taxistas ali como chegar na BR 101.
Tinha que pegar um ônibus intermunicipal mesmo até Bayeux (uma outra cidadezinha perto) e falar pro motorista avisar quando tiver chegando na Polícia Rodoviária.

Além da PRF ser um ótimo lugar para caronas já que ninguém se arrisca a passar voado por eles, nesse ponto, há também um quebra-molas. Salve salve quebra-molas.

Para se chegar a Pipa, deve-se antes ir a Goianinha e dali tomar uma van que custa R$ 3,00 e se pega atrás da igrejinha do centro.

Fiquei uns 20 minutos tentando carona, e para um cara num Uno caindo aos pedaços. Ele estava indo pra Natal e disse que me levava até Goianinha.

A carona foi meio tensa. O cara parecia que tinha cheirado todas e toda hora estava tendo falta de ar. Parecia que ia desmaiar a todo tempo.
- bebe água aí moço, vc tá bem?
- to bem. to bem.

E quando virava pra ele tava lá roxo sem ar.
Numa hora me distraí, escolhendo música do toca-discos, e o cara caiu numa cratera.
Preferia que ele estivesse dormido, cochilado. Mas não ele tava passando mal mesmo.
- Toma agua rapaz. se vc quiser parar, pode parar, to com pressa nao.
- nao nao.. to bem.
- QUE BEM O QUE. TOMA A AGUA AIH FI.

E ele tomou.
- arrgh... garganta seca... valeu valeu. na proxima parada gente para um pouco, tomar um café. e compro uma agua pra voce.

Ele pagou um café e duas garrafas de água pra mim.
A que ele comprou pra ele, terminou em 5min depois de sairmos com o carro.

Sem água, começou a passar mal de novo. Sorte a minha.
E lá se vai minha água, em prol da nossa integridade física, vamos hidratar o motorista!

Tres garrafas de água depois, e nenhum buraco pulado, ele me deixa em Goianinha.

Dali fui procurar a van atrás da igreja e 30min depois já estava em Pipa.


***

Pipa. De noite, com mochilão nas costas, rua lotada de gente.
Pipa se parece com Búzios e sua rua das pedras, mas é mais roots. Mais hype. Mais linda.

Fui a um orelhão tentar falar com a Raquel. A menina que ia ficar na casa da Ellen em João Pessoa, mas que acabou ficando numa pousada mesmo. Sem cartão, liguei a cobrar. No meio do tuuu-tuuu-tuuu, desisti.
"Pô, sacanagem ligar pra ela a cobrar". Fui comprar um cartão de orelhão.

Visivelmente perdido, caminhando por Pipa, quando:

"Ronan?"
E vejo alguém dando meia volta. Era a Raquel! Me reconheceu pela foto do meu perfil do couchsurfing e - mais ainda - pela minha cara de perdido.

Gente finissima, me levou até uma pousada barata e arrumadinha, Vera my House (adorei o nome pra gringos) onde ela e o povo do carnaval de Recife estavam, antes de mudar pra uma em frente a praia. Só que nessa em frente a praia não havia vagas. Solução foi eu ficar na Vera. Negociando, fechei por R$ 20,00 mais café da manhã.

Deixei minha mochila por lá. E fui pra pousada em frente a praia.
O povo todo do carnaval de Recife estava lá. Uma espanholas e uma inglesa que estavam estudando na USP, Rocío, Ana e Reene. Marco o italiano - que mora em Barcelona - com espírito de Don Juan. Tito, um natalense que mora em São Paulo e que dividiu apê com o Marco na espanha. A Martina, uma austríaca que está viajando sozinha pela América do Sul, e a Raquel.

As meninas fizeram crepes, e Marco, sangria.
Pela sangria (e pela atuação Donjuanística de Marco) conhecemos duas chicas de Porto Alegre, Darliza e Dani. Que ao princípio se mostraram um tanto blasé, mas depois, encantadoras. E o parecer não foi juízo pós-sangria. Portoalegrenses muito doidas: "ahhh ninguém conhece a gente mesmo aqui uai! rio grande do norte!! uhulllll!!" e saíam dançando forró, hora air-forró ou com quem aparecesse.

A noite em Pipa é internacional. Se você ao menos não maneja bem o inglês, você ainda pode usar a desculpa da linguagem universal (loooove, looooove... love is all you need) e tentar um approach.


O lance é tomar cerveja na rua, calibrar. Se estiverem por lá, comprem com a tia da cerveja. Ela é gente fina e vai te contar muitas histórias de Pipa antes do boom turístico. No final ainda ganhei duas cervejas. Sabe como é né... ajudei no marketing... e a segurar o guarda-chuvas, no toró que caiu lá.

No sábado a noite bomba. Tem bar de samba, bar de rock, bar de eletro e bar de MPB.




Só sei que sem nem ao menos ver o mar - e olha que mar pra mineiro é importantíssimo - já me apaixonei, de cara, por Pipa.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

2322km rodados, 10 dias na estrada.

Dez dias de viagem.
[5 só pro carnaval... hehe]
2322 km percorridos.
Nesse mapa dá pra ver mais ou menos por onde estou passando.

João Pessoa

Com alguns percalços, cheguei a Joao Pessoa.
Se a temperatura for subindo dessa maneira, eu chego cozido al dente em Fortaleza.

O Raphael deixou eu e o Aaron nos Correios de San Martin pra gente tentar o esquema que o César (o caminhoneiro que me trouxe até Recife) havia falado.
Ficamos uma hora esperando algum caminhão sair e nada.
Resolvi ir lá perguntar se ia demorar muito até algum sair pro Rio, e o cara disse que naquele dia não sairia nenhum ao Rio. Só até Salvador.
Tentei convencer o Aaron a ir até Salvador, falando das maravilhas da Bahia (e das baianas) mas ele tava na correria e preferia ir direto até o Rio.

Vamos para a rodoviária. Dividimos um taxi com mais um senhor que tava no ponto, depois de uma hora esperando o onibus pro terminal integrado.
O motorista foi me assustando por todo o caminho:
- ali onde vc ta pensando em pegar carona, mataram uma alemã ontem. dois motoqueiros. ela tava indo pra joão pessoa.

Roube o carro, celular, bolsa, o que for, mas pra que matar! É foda...

Vou de onibus, decidido. Por força maior.

Peguei o onibus das 19:15 pra Joao Pessoa, e o Aaron foi pro Rio as 19:30.

Só depois que cheguei na rodoviária aqui, é queme dei conta que nao tinha o endereço nem o telefone da Ellen.

Perguntei por alguma lan house, mas já era mais de 22h, dificil encontrar alguma aberta.
- nem no shopping?
- nem. shopping já tá fechando.

Cogitei dormir na rodoviária. Mas veio uma luz! Liguei pro André lá em Juiz de Fora, passei meu login, senha, pra ele ver se ela havia respondido meu e-mail com os seus dados. E voilá!

Liguei, e ela atendeu toda simpática falando que eu podia ir pra lá.
- é perigoso?
- é. vou mentir nao.
Como eu adoro isso.
O terminal de onibus interurbano é logo do lado de fora da rodoviária, e pra me deixar um pouco tenso (nao sou medroso, algumas vezes fico tenso, e só) tinha dois colchoes pegando fogo bem na calçada em frente ao terminal integrado, e aquele povo meio do mal que habitam os arredores de toda rodoviária do mundo. Perguntando ao povo punk mesmo, perto dos colchoes em chamas (eu que nao ia tirar maquina ali pra bater foto... mas estava um clima meio Fallout), soube que eu tinha que pegar o 306-Mangabeiras.

Cheguei na casa da Ellen, e ela é super gente boa. Me recebeu com uma cervejinha e já me encantei pelo gosto musical dela: Chico, Bethania e Caetano.
Vou mostrar Tom Zé pra ela conhecer, certeza que ela vai gostar.

Amanha ainda chega mais visitas aqui pra ela, uma carioca e um povo de Portugal.
Agora é guardar energia porque amanha tem um forró pé de serra famoso na regiáo. Bora lá gastar sola.


Obs.: tá tao quente aqui que nao to conseguindo raciocinar muito bem. No duro.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Recifeando e Olindeando

Recife, o carnaval e os pernambucanos são incríveis.
Quero morar aqui quando eu crescer.
Maguebeat, maracatu, frevo.
Olinda.
RECbeat.
Rua da moeda, da guia, do bom Jesus.
O marco Zero.
Brennand.
Paço da alfândega.
Os arrecifes.
Praia de Boa Viagem.
O mar cheio de tubarão.
E o carnaval mais raiz que já vi.


Depois da Ana Paula, fiquei na casa do Raphael do couchsurfing, e não poderia ter sido melhor. A família dele é super gente boa, e o Andrew, um gringo gente fina que fala português com sotaque de pernambucano.
No segundo dia chegou o Aaron, um texano que ficou por aqui também. Que se enrolava todo pra chegar nas meninas, já que não fala nada de português. Boas companhias pro carnaval.

Uma coisa é certa, é impossível encontrar com alguém se não se está na mesma casa durante o carnaval.

Depois de milhões de créditos gastos, centenas de mensagens enviadas e recebidas e desencontros (é rapaz, Olinda é complicado) encontrei com o memorável Moura só no show do Nação Zumbi no pólo da Várzea.
E perdido um outro dia na ladeira dos cearenses (085) em Olinda.

O André, um amigo de Buenos Aires, se complicou e não pode ir para o Carnaval.

Em breve tô chegando em Fortaleza, ainda vão me aturar por mais um tempo.

Mas antes de Fortaleza ainda tenho um longo caminho a seguir... tenho que pensar no próximo destino: João Pessoa.



Mosteiro de São Bento, Olinda.











Em sua esperada volta, Jesus compra caipirinhas.











 Muita gente. Muito calor. Muita doidera. Muito de tudo!










Alguns dos Borats que invadiram o carnaval de Olinda.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

RECIFE!


Finalmente Recife!
O César me deixou num bairro longe lá. E peguei um busão pro Centro.


Tava super de boa pra sair caminhando por aí. Até que conversei com um cara no ônibus que peguei pra vir ao centro:
- é desce aí no ponto, vai pela avenida guararapes, e vc vai ver o predio dos correios, aí atravessa a ponte (do galo) e já ta no centro.
- valeu mesmo cara.
- mas toma cuidado. se opovo gritar. "arrastão!" tu sai correndo e entra numa loja.
-... (engoli seco) ok.

Agora tô aqui, tentando falar com minha mãe, esperando alguém gritar "arrastão!", pegar o endereço de uma amiga dela, ir lá tomar um banho. E ver que diabos eu vou arrumar agora que tô na capital do frevo! Momentaneamente sozinho!



Estou decidindo também, se fico por aqui mesmo, esperando o Mamão e o Moura chegarem, ou se vou lá pra Fortaleza. Ou pra Natal.
E volto quando eles chegarem.

Quero deixar a mochila em algum lugar. Pra já começar a aproveitar aqui. O bicho tá pegando. A cidade tá parada. E o frevo rolando solto!

Amanhã show do Jorge Ben, Cordel e Zé Ramalho.


O problema agora é achar essa amiga da minha mãe mesmo. O Couchsurfing me deixou na mão... Tá congestionado. Sem sinais de que volta logo. :(

Fotos, ponho logo. Esqueci o cabo da camera e o adaptador do cartão. Show né.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cangaceiros

Trocamos de caminhão. Despedi do Junior e do Portugues.
Em breve vou lá pra Sertânia visitá-lo.

Resolvemos dormir por ali mesmo.
E saímos bem cedo rumo a Recife.


Cruzamos todo o sertão da Bahia. Parando em alguns lugares para uma água, ou um lanche.
Fiquei impressionado com a paisagem. Cerrado sem fim.
Nenhuma plantação. Só aquela vegetação típica de gramíneas, vegetação rasteira. A perder de vista. Só a flor de mandacaru, pra mudar o tom da seca.

Vi muita plantação de cacto. Eles cultivam agora, pra na seca, fazerem farinha e dar pro gado comer.

Passei por muita ponte sobre rios que há anos não tem água. E vi muita carcaça em decomposição.

Velho Chico

Na divisa da Bahia com o Alagoas, o César parou o caminhão pra eu atravessar a ponte caminhando.
Era o São Francisco. Surpreendente, a água extremamente verde. E calmo. E aqueles paredões sem fim. Do outro lado da ponte, a usina de Paulo Afonso.

Íamos pela estrada tensa, que ninguém passa, porque todo mundo conhece alguem que já foi assaltado ali.
E a cada placa, ia dando graças por nao ter passado ali de noite. Muita placa com buraco de bala.
Até por uma cidade que chama Espingarda, passamos.

Seguimos pelo sertão do Alagoas e chegamos até Garanhuns.


Seguimos até Garanhuns (a terra do cara) e por lá passamos a noite. Faz frio em Garanhuns! E penei ali sem coberta e sem agasalho. Solução foi cobrir com as roupas que eu tinha...

Só falta chegar em Recife e tá fazendo frio lá também!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Milagres e apuros

Até Jequié, eu tinha vindo na minha suíte. Capotado. Estava morrendo de cansaço.
A minha suíte era o caminhão de cima. Cada um, estava levando dois caminhões zerados, um eles iam dirigindo, e o outro como carga. E lá fui eu.

Depois eu desci. E nem animei a subir de novo. O Português dirigia indestemidamente. Tá doido. Melhor ir ali mesmo, pra ver, e ir conversando com ele mesmo. Opinando em cada ultrapassagem.

Paramos em Milagres, para tomar um sucão que é famoso lá.
Pedi de Umbu, 70 centavos.

O Português era bem louco no volante.

- aó ó, limite máximo aqui é 60km. olha quanto que eu tô. experiência é outra coisa...
e lá iamos a 100km/h.

E as ultrapassagens então, de filme! Seguimos viagem, com eu firmemente agarrado na porta, e com o cinto de segurança mais justo o possível.

Na chegada do Posto Fiscal de Feira de Santana:

- Vei, vei, não dá pra ir não.
Aquele reta interminável, uma fila de carro absurda, e ele querendo cortar.
- que isso rapaz, mole pra nós.
- dá não, dá não...
Um caminhão apontando lá na outra ponta da pista, vindo na nossa direção.
Mas ele foi.
Se eu peidasse eu explodia, tenso. Com aquele clássico efeito Doppler de buzina, no final dessas ultrapassagens milagrosas.

Paramos no posto.E fui lá carimbar a nota.
Aí vem um gordo baixo, com sotaque de Alagoas:
- tu que tá naquele caminhão lá? e aponta pro nosso dois andares.
- é uai.
- então tu é um cabra muito do filho da puta!
- ...
- tu não tem vergonha nessa sua cara não seu cabra safado.
E veio pra cima de mim. Dei uma corrida pra trás, sem entender nada! "Que porra é essa!" pensei.
- Tu nao é homi não bicho? Me fez sair da pista ali ó. - Aos berros.
Caiu a ficha. Se eu vi Jesus na ultrapassagem do Português, o Severino ali viu Jesus, 9 dos 12 apóstolos e Maria fazendo o moonwalking.
- cara não sou eu que tô dirigindo não.
- então o cabra é mais safado ainda, que te mandou aqui porque tá com medo!

saiu batendoo pé, entrou no caminhão. E foi.
Eu fui voltando pro caminhão.
Quando vi o Severino que pra mim, depois do susto, seguiria viagem, encostou ao lado do caminhão do Português.
Pronto. Vai sair tiro.
Apetei o passo pra tentar apaziguar.
Mas a confusão já tava lá. Uns caminhoneiro chegaram lá pra apaziguar também. Tiro não saiu.
Nem porrada. Porque o Português nengou até o fim que tinha sido ele.
- foi tu sim cabra safado!
- que eu nada, quantidade de caminhão aí na estrada.

O Severino voltou no caminhão, e eu gritei:
- Bora agora! esse cara volta aí traz uma arma gente tá fudido!

E partimos... cantando pneu, naquela agilidade toda de uma carreta dando partida.

Fomos até logo depois de Feira.
Depois do sufoco.

 Depois dali já iamos trocar de caminhão. O Jr. seguiria com o Portugues até Petrolina, e eu com o César até Recife.
A dúvida do César era passar pela BR101, que vai pelo litoral, ou pela BR 110, que vai por Tucano, Paulo Afonso, e corta o Alagoas. A 101, tá cheia de obras, e é muito movimentada, íamos demorar muito. Optou pela 110 então.
E a 110, segundo todos ali era muito tensa. Até o César tava com medo.
- ali é cangaceiro mesmo. recorde de assalto a caminhoes. povo tem dó não. passa niguém lá. desertidão pura.

César tinha uma carona pro voltar do Recife para o Rio que saía de lá 12h. Então ele tinha que chegar lá até esse horário.E queria passar a noite na estrada do cangaço.
- tá doido rapá. - eu né,desesperado.
- nada bicho, tenho que voltar 12h do recife.

Pois é. Íamos correr o risco de ser pegos pelos cangaceiros.
Nem com o Júnior pondo mais medo ainda na gente:
- ônibus ali só passa em escolta?
- escolta?
- é uai em bando.
- bando?
- é eles vao em bando de oito. um atrás do outro. só assim.

Fuck.

Direto para Recife

Alí eu tava frito. Se eu não arrumasse carona, teria que dormir na escada do Posto Fiscal, porque até a lanchonete de um posto há 3km dali, não era 24h.

Sempre que lembrava disso me empenhava mais a conseguir carona.
Tive muitas negações... Caminhoneiro tem medo. Por ali ocorrem muitos assaltos a caminhões, e a maioria das companhinas adotam medidas de segurança, como travar as portas do carona. Se o motorista abrir, a central é imediatamente informada, e liga perguntando porque foi aberta a porta.

Tentei então nao paracer com um assaltante. Peguei meu mapa, caderno, lápis, e fiquei ouvindo música. Com o mochilão sempre a vista. Sei lá, pra mim,dessa forma, eu não pareceria um bandido.

E ia pedindo, um a um.

- arruma carona até feira amigo? to saindo de minas aí. viagem larga... vê se dá essa força.
- pô já estamos ajudando esse rapazinho aí ó...
- se der pra me ajudar... agradeceria demais mesmo.
- vamo ver.

Claro que não daria. Sentei na mureta do posto. Quando escuto a buzina, e o coroa me chama.

Adeus posto fiscal!

E fomos desenrolando viagem afora. Não só tive a sorte de sair do posto fiscal, como arrumei o esquema dos esquemas.
Ele, o Português, tava indo até Petrolina. E o amigo dele, que tava no outro caminhão até Recife. Sim. Recife.
Chegando em Feira de Santana, que onde a estrada separa, o mulek ia pro caminhão doPortuguês, e ele disse que não teria problema eu ir com o amigo dele até Recife!

Nem acreditei! Assim, até quarta feira, bem antes do esperado já estaria no carnaval de Recife!

 Numa parada pra gente almoçar, em Poções, fiquei sabendo da história do mulek. Tava vindode São Paulo, 21 anos, voltando pra Sertânia em Pernambuco. Tinha ido trabalhar numa empresa lá que seria o futuro certo. Porém foi uma enganação. O salário não era o esperado, não tinha alojamento, e não tinha auxílio nenhum.
Tomou coragem e decidiu voltar pra Sertânia. Sem dinheiro.
Ficou dois dias em Além Paraíba elá encontrou o Português e o César. Estava há dois dias sem comer (o cara da lanchonete negou até resto de comida) e eles se sensibilizaram com o pedido do mulek (que chama Junior).
É, mais um entre tantos que vão pra São Paulo, mas entre tantos, um dos poucos que conseguem voltar.

Em cada parada, gente ia conversando um tanto. E o mulek era gente fina ainda.
Me convidou pra ir lá em Sertânia comer a buchada de bode do vó dele e disse que me ensina a tocar zabumba e uns instrumentos doidos lá.
Expectativa pra ligar o motor e passar a marcha.
O caminhão liga!

Show!

Seguimos até o destino onde a gente deveria ter passado a noite anterior. No Faisão, em Águas Vermelhas, última cidade mineira antes de entrarmos na Bahia.

Chegando no Faisão, o Jr. pediu pra eu descer do caminhão, porque tinha um cara lá emoutro caminhão da empresa que não podia ver que ele tava dando carona.
É caminhoneiro, que trabalha em caminhão de empresa, não pode dar carona. Mas a maioria dá. É muito solitário ficar viajando por aí, 8 horas, 10 horas por dia. E é sempre bom ter alguém pra conversar, diminui a distância.

Desci fora do posto e ele foi lá estacionar o caminhão.
Mas não é que o cara do outro caminhão viu que ele tava comigo de carona.

- tu tá levando carona é junior.
- que isso cara. o mulek que ajudou com o caminhão que tava com defeito lá em itaobim, e pediu pra eu trazer ele no posto fiscal ali de vitoria da conquista. só isso. ter que ajudar o mulek né.
- é tem que ajudar.

Estava lá no restaurante do posto. E vem o "amigo" e o Jr.
O cara veio todo todo, querendo encostar o Jr. na parede (o Jr. não sabe mentir...), e pra tirar a verdade de mim.
- muleque, tu tá indo pra onde.
Olho pro Jr. e ele transparescendo um desespero.
Eu eu sei lá o que o Jr. havia falado com ele. Qualquer coisa que eu falasse ali, poderia atrapalhar demais o Jr.e o pela saco, era insistente.

- mmm. falei eu.

e nem sei de onde tirei isso. mas fiz uma imitação tosca e patética do jornal visual.
não sei Libras, e o cara muito pouco. na primeira dúzia de sinais que eu fiz. a cara embasbacada do cara. e o jr solta.
- viu, tá indo pra vitória!
- e tu lá sabe linguagem de surdomudo rapaz...
- mais ou menos. mas ele me ajudou escrevendo num papelzinho.

Só sei que deu certo. E ficamos rindo depois da sorte e de como bizarro foi aquilo.

Deu pra ele escapar da mentira. Mas mesmo assim, não ia ter como me levar até Feira.
E me deixou no Posto Fiscal de Vitória da Conquista.

Daqui vou tentando carona até Feira de Santana. Se de lá eu não arrumar, durmo na casa do Jr (to com o telefone dele).


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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Carona até Feira!

Filtro solar e plaquinha de Vitória da Conquista em mãos.
Em uma hora parou uma carreta.
Cara tava indo pra Feira de Santana.
O Júnior Washington, baiano arretado que só a porra.

Aí que eu percebi que não fala baianês. O cara tinha que repetir três vezes, pra eu entender.

- rapaz tu é doido demais que só a porra. tu não tem medo não bichinho?
- nada cara... vou me arrumando aí. e a idéia é tentar chegar em recife antes do galo sair.

O galo. O famoso Galo da Madrugada.

- tá doido...

E ficou lá me chamando de doido a viagem toda. Falando naquele baianês que tava difícil de entender.
Mas já deu pra sacar o que ia me esperar até então, cada música mais doida que a outra. E um tal de Zezo foi tocando a viagem toda.


Logo na arrancada saindo de Valadares, o caminhão já mostrou que ia dar trabalho a viagem toda.
Parou na subida, e o Jr. teve que deixar ele voltar de ré, pra arrancar de novo.

- rapaaaaz. esse caminhão parece que vai dar a doida.

E deu mesmo. Em quase toda subida larga tivemos que voltar, pra arrancar de novo.
Ou subir de terceira, a 5km/h. Agilidade pura e total. Desse jeito ia chegar em Feira uns 3 dias depois.

Chegamos em Itaobim e o caminhão decidiu morrer de vez por ali. Falha no sistema do botão que precisa apertar pra marcha descer.
Solução, dormir por ali mesmo. E esperar para que a carreta reaja, no outro dia, pra gente tocar viagem.


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