quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mossoró

Inicialmente o plano seria uma noite em Mossoró, mas essa cidade me cativou além do esperado.

Conheci muita gente massa, noites malucas e festa com piscina e banda.



Um dos orgulhos do povo mossoroense é o fato da cidade ter resistido a invasão do bando de Lampião. Importantes membros do bando caíram por ali, inclusive o temível Jararaca (enterrado por ali mesmo, no cemitério da cidade, palco do confronto decisivo). As marcas dos tiros ainda estão na igreja do Centro.

Primeira noite tomamos um vinho e comemos um macarrão que o Marco (o italiano doido que conheci em Pipa e que decidiu seguir viagem comigo) preparou.

De cara já me apaixonei pela vó do Thiago, nosso anfitrião.

Segunda noite, depois de uma tentativa frustrada de ir pra Canoa Quebrado (o Marco tava com dinheiro e seguiu), saí com os amigos do Thiago.

Fomos pra convivência (um lugar bacana de sair lá). Fiquei bebado. Com a tão famosa Pitu (responsável por minhas maiores dores de cabeça do carnaval de Olinda).





Dali encontramos um povo doido, esse povo doido deu mais bebida pra gente e depois esse povo doido saiu correndo pelado pelas ruas de Mossoró. Bebemos mais. E acabamos no Trapiche (vulgo, embaixo da ponte). Lugar onde o povo se junta. Para que? Beber, oras!

Não lembro muito do fim da noite - essa tal de Pitu é foda. Só sei que no final estava tomando (mais) Pitu, e tirando gosto com Hi-fi de vodka genérica.

No outro dia foi o churras louco. Aniversário do Stefano, um italiano que está por lá fazendo intercâmbio.



Eram para ser 5 bandas. Só tocaram duas. Eu me lembro de uma.

A polícia chegou acabando com tudo.

Ai, maldito aparelho repressor de diversão.

Ao menos gostei muita da banda que lembro haver tocado. Troquei uma idéia com o Artur, vocalista, não lembro do que falamos, ele não deve lembrar também (ele queria a minha camisa de presente, mas nem rolava, ja tava viajando sem roupa!), mas sei que achei ele, a sonoridade, o conceito e as letras da banda massa. Eles tem um Myspace, vale a pena escutar.















Mossoró é o que há.

Amanhã sigo para Fortaleza.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Saída de João Pessoa, chegada em Pipa

Fui para o terminal de integração que é em frente a rodoviária de João Pessoa.
Aproveitando que estava ali perto (e já me esquecendo um pouco, de que deveria ir de carona) fui lá perguntar quando era o ônibus até Goianinha (tem que ir até aí, e depois uma van baratinha até Pipa).
- ah ônibus, só direto até Natal. aí você pede pra descer em Goianinha.

O cúmulo do absurdo. Você tem que pagar a passagem inteira até Natal e descer na metade do caminho.
Indignado recuperei as energias caronísticas e decidi ir pra estrada.
Perguntei pra alguns taxistas ali como chegar na BR 101.
Tinha que pegar um ônibus intermunicipal mesmo até Bayeux (uma outra cidadezinha perto) e falar pro motorista avisar quando tiver chegando na Polícia Rodoviária.

Além da PRF ser um ótimo lugar para caronas já que ninguém se arrisca a passar voado por eles, nesse ponto, há também um quebra-molas. Salve salve quebra-molas.

Para se chegar a Pipa, deve-se antes ir a Goianinha e dali tomar uma van que custa R$ 3,00 e se pega atrás da igrejinha do centro.

Fiquei uns 20 minutos tentando carona, e para um cara num Uno caindo aos pedaços. Ele estava indo pra Natal e disse que me levava até Goianinha.

A carona foi meio tensa. O cara parecia que tinha cheirado todas e toda hora estava tendo falta de ar. Parecia que ia desmaiar a todo tempo.
- bebe água aí moço, vc tá bem?
- to bem. to bem.

E quando virava pra ele tava lá roxo sem ar.
Numa hora me distraí, escolhendo música do toca-discos, e o cara caiu numa cratera.
Preferia que ele estivesse dormido, cochilado. Mas não ele tava passando mal mesmo.
- Toma agua rapaz. se vc quiser parar, pode parar, to com pressa nao.
- nao nao.. to bem.
- QUE BEM O QUE. TOMA A AGUA AIH FI.

E ele tomou.
- arrgh... garganta seca... valeu valeu. na proxima parada gente para um pouco, tomar um café. e compro uma agua pra voce.

Ele pagou um café e duas garrafas de água pra mim.
A que ele comprou pra ele, terminou em 5min depois de sairmos com o carro.

Sem água, começou a passar mal de novo. Sorte a minha.
E lá se vai minha água, em prol da nossa integridade física, vamos hidratar o motorista!

Tres garrafas de água depois, e nenhum buraco pulado, ele me deixa em Goianinha.

Dali fui procurar a van atrás da igreja e 30min depois já estava em Pipa.


***

Pipa. De noite, com mochilão nas costas, rua lotada de gente.
Pipa se parece com Búzios e sua rua das pedras, mas é mais roots. Mais hype. Mais linda.

Fui a um orelhão tentar falar com a Raquel. A menina que ia ficar na casa da Ellen em João Pessoa, mas que acabou ficando numa pousada mesmo. Sem cartão, liguei a cobrar. No meio do tuuu-tuuu-tuuu, desisti.
"Pô, sacanagem ligar pra ela a cobrar". Fui comprar um cartão de orelhão.

Visivelmente perdido, caminhando por Pipa, quando:

"Ronan?"
E vejo alguém dando meia volta. Era a Raquel! Me reconheceu pela foto do meu perfil do couchsurfing e - mais ainda - pela minha cara de perdido.

Gente finissima, me levou até uma pousada barata e arrumadinha, Vera my House (adorei o nome pra gringos) onde ela e o povo do carnaval de Recife estavam, antes de mudar pra uma em frente a praia. Só que nessa em frente a praia não havia vagas. Solução foi eu ficar na Vera. Negociando, fechei por R$ 20,00 mais café da manhã.

Deixei minha mochila por lá. E fui pra pousada em frente a praia.
O povo todo do carnaval de Recife estava lá. Uma espanholas e uma inglesa que estavam estudando na USP, Rocío, Ana e Reene. Marco o italiano - que mora em Barcelona - com espírito de Don Juan. Tito, um natalense que mora em São Paulo e que dividiu apê com o Marco na espanha. A Martina, uma austríaca que está viajando sozinha pela América do Sul, e a Raquel.

As meninas fizeram crepes, e Marco, sangria.
Pela sangria (e pela atuação Donjuanística de Marco) conhecemos duas chicas de Porto Alegre, Darliza e Dani. Que ao princípio se mostraram um tanto blasé, mas depois, encantadoras. E o parecer não foi juízo pós-sangria. Portoalegrenses muito doidas: "ahhh ninguém conhece a gente mesmo aqui uai! rio grande do norte!! uhulllll!!" e saíam dançando forró, hora air-forró ou com quem aparecesse.

A noite em Pipa é internacional. Se você ao menos não maneja bem o inglês, você ainda pode usar a desculpa da linguagem universal (loooove, looooove... love is all you need) e tentar um approach.


O lance é tomar cerveja na rua, calibrar. Se estiverem por lá, comprem com a tia da cerveja. Ela é gente fina e vai te contar muitas histórias de Pipa antes do boom turístico. No final ainda ganhei duas cervejas. Sabe como é né... ajudei no marketing... e a segurar o guarda-chuvas, no toró que caiu lá.

No sábado a noite bomba. Tem bar de samba, bar de rock, bar de eletro e bar de MPB.




Só sei que sem nem ao menos ver o mar - e olha que mar pra mineiro é importantíssimo - já me apaixonei, de cara, por Pipa.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

2322km rodados, 10 dias na estrada.

Dez dias de viagem.
[5 só pro carnaval... hehe]
2322 km percorridos.
Nesse mapa dá pra ver mais ou menos por onde estou passando.

João Pessoa

Com alguns percalços, cheguei a Joao Pessoa.
Se a temperatura for subindo dessa maneira, eu chego cozido al dente em Fortaleza.

O Raphael deixou eu e o Aaron nos Correios de San Martin pra gente tentar o esquema que o César (o caminhoneiro que me trouxe até Recife) havia falado.
Ficamos uma hora esperando algum caminhão sair e nada.
Resolvi ir lá perguntar se ia demorar muito até algum sair pro Rio, e o cara disse que naquele dia não sairia nenhum ao Rio. Só até Salvador.
Tentei convencer o Aaron a ir até Salvador, falando das maravilhas da Bahia (e das baianas) mas ele tava na correria e preferia ir direto até o Rio.

Vamos para a rodoviária. Dividimos um taxi com mais um senhor que tava no ponto, depois de uma hora esperando o onibus pro terminal integrado.
O motorista foi me assustando por todo o caminho:
- ali onde vc ta pensando em pegar carona, mataram uma alemã ontem. dois motoqueiros. ela tava indo pra joão pessoa.

Roube o carro, celular, bolsa, o que for, mas pra que matar! É foda...

Vou de onibus, decidido. Por força maior.

Peguei o onibus das 19:15 pra Joao Pessoa, e o Aaron foi pro Rio as 19:30.

Só depois que cheguei na rodoviária aqui, é queme dei conta que nao tinha o endereço nem o telefone da Ellen.

Perguntei por alguma lan house, mas já era mais de 22h, dificil encontrar alguma aberta.
- nem no shopping?
- nem. shopping já tá fechando.

Cogitei dormir na rodoviária. Mas veio uma luz! Liguei pro André lá em Juiz de Fora, passei meu login, senha, pra ele ver se ela havia respondido meu e-mail com os seus dados. E voilá!

Liguei, e ela atendeu toda simpática falando que eu podia ir pra lá.
- é perigoso?
- é. vou mentir nao.
Como eu adoro isso.
O terminal de onibus interurbano é logo do lado de fora da rodoviária, e pra me deixar um pouco tenso (nao sou medroso, algumas vezes fico tenso, e só) tinha dois colchoes pegando fogo bem na calçada em frente ao terminal integrado, e aquele povo meio do mal que habitam os arredores de toda rodoviária do mundo. Perguntando ao povo punk mesmo, perto dos colchoes em chamas (eu que nao ia tirar maquina ali pra bater foto... mas estava um clima meio Fallout), soube que eu tinha que pegar o 306-Mangabeiras.

Cheguei na casa da Ellen, e ela é super gente boa. Me recebeu com uma cervejinha e já me encantei pelo gosto musical dela: Chico, Bethania e Caetano.
Vou mostrar Tom Zé pra ela conhecer, certeza que ela vai gostar.

Amanha ainda chega mais visitas aqui pra ela, uma carioca e um povo de Portugal.
Agora é guardar energia porque amanha tem um forró pé de serra famoso na regiáo. Bora lá gastar sola.


Obs.: tá tao quente aqui que nao to conseguindo raciocinar muito bem. No duro.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Recifeando e Olindeando

Recife, o carnaval e os pernambucanos são incríveis.
Quero morar aqui quando eu crescer.
Maguebeat, maracatu, frevo.
Olinda.
RECbeat.
Rua da moeda, da guia, do bom Jesus.
O marco Zero.
Brennand.
Paço da alfândega.
Os arrecifes.
Praia de Boa Viagem.
O mar cheio de tubarão.
E o carnaval mais raiz que já vi.


Depois da Ana Paula, fiquei na casa do Raphael do couchsurfing, e não poderia ter sido melhor. A família dele é super gente boa, e o Andrew, um gringo gente fina que fala português com sotaque de pernambucano.
No segundo dia chegou o Aaron, um texano que ficou por aqui também. Que se enrolava todo pra chegar nas meninas, já que não fala nada de português. Boas companhias pro carnaval.

Uma coisa é certa, é impossível encontrar com alguém se não se está na mesma casa durante o carnaval.

Depois de milhões de créditos gastos, centenas de mensagens enviadas e recebidas e desencontros (é rapaz, Olinda é complicado) encontrei com o memorável Moura só no show do Nação Zumbi no pólo da Várzea.
E perdido um outro dia na ladeira dos cearenses (085) em Olinda.

O André, um amigo de Buenos Aires, se complicou e não pode ir para o Carnaval.

Em breve tô chegando em Fortaleza, ainda vão me aturar por mais um tempo.

Mas antes de Fortaleza ainda tenho um longo caminho a seguir... tenho que pensar no próximo destino: João Pessoa.



Mosteiro de São Bento, Olinda.











Em sua esperada volta, Jesus compra caipirinhas.











 Muita gente. Muito calor. Muita doidera. Muito de tudo!










Alguns dos Borats que invadiram o carnaval de Olinda.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

RECIFE!


Finalmente Recife!
O César me deixou num bairro longe lá. E peguei um busão pro Centro.


Tava super de boa pra sair caminhando por aí. Até que conversei com um cara no ônibus que peguei pra vir ao centro:
- é desce aí no ponto, vai pela avenida guararapes, e vc vai ver o predio dos correios, aí atravessa a ponte (do galo) e já ta no centro.
- valeu mesmo cara.
- mas toma cuidado. se opovo gritar. "arrastão!" tu sai correndo e entra numa loja.
-... (engoli seco) ok.

Agora tô aqui, tentando falar com minha mãe, esperando alguém gritar "arrastão!", pegar o endereço de uma amiga dela, ir lá tomar um banho. E ver que diabos eu vou arrumar agora que tô na capital do frevo! Momentaneamente sozinho!



Estou decidindo também, se fico por aqui mesmo, esperando o Mamão e o Moura chegarem, ou se vou lá pra Fortaleza. Ou pra Natal.
E volto quando eles chegarem.

Quero deixar a mochila em algum lugar. Pra já começar a aproveitar aqui. O bicho tá pegando. A cidade tá parada. E o frevo rolando solto!

Amanhã show do Jorge Ben, Cordel e Zé Ramalho.


O problema agora é achar essa amiga da minha mãe mesmo. O Couchsurfing me deixou na mão... Tá congestionado. Sem sinais de que volta logo. :(

Fotos, ponho logo. Esqueci o cabo da camera e o adaptador do cartão. Show né.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cangaceiros

Trocamos de caminhão. Despedi do Junior e do Portugues.
Em breve vou lá pra Sertânia visitá-lo.

Resolvemos dormir por ali mesmo.
E saímos bem cedo rumo a Recife.


Cruzamos todo o sertão da Bahia. Parando em alguns lugares para uma água, ou um lanche.
Fiquei impressionado com a paisagem. Cerrado sem fim.
Nenhuma plantação. Só aquela vegetação típica de gramíneas, vegetação rasteira. A perder de vista. Só a flor de mandacaru, pra mudar o tom da seca.

Vi muita plantação de cacto. Eles cultivam agora, pra na seca, fazerem farinha e dar pro gado comer.

Passei por muita ponte sobre rios que há anos não tem água. E vi muita carcaça em decomposição.

Velho Chico

Na divisa da Bahia com o Alagoas, o César parou o caminhão pra eu atravessar a ponte caminhando.
Era o São Francisco. Surpreendente, a água extremamente verde. E calmo. E aqueles paredões sem fim. Do outro lado da ponte, a usina de Paulo Afonso.

Íamos pela estrada tensa, que ninguém passa, porque todo mundo conhece alguem que já foi assaltado ali.
E a cada placa, ia dando graças por nao ter passado ali de noite. Muita placa com buraco de bala.
Até por uma cidade que chama Espingarda, passamos.

Seguimos pelo sertão do Alagoas e chegamos até Garanhuns.


Seguimos até Garanhuns (a terra do cara) e por lá passamos a noite. Faz frio em Garanhuns! E penei ali sem coberta e sem agasalho. Solução foi cobrir com as roupas que eu tinha...

Só falta chegar em Recife e tá fazendo frio lá também!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Milagres e apuros

Até Jequié, eu tinha vindo na minha suíte. Capotado. Estava morrendo de cansaço.
A minha suíte era o caminhão de cima. Cada um, estava levando dois caminhões zerados, um eles iam dirigindo, e o outro como carga. E lá fui eu.

Depois eu desci. E nem animei a subir de novo. O Português dirigia indestemidamente. Tá doido. Melhor ir ali mesmo, pra ver, e ir conversando com ele mesmo. Opinando em cada ultrapassagem.

Paramos em Milagres, para tomar um sucão que é famoso lá.
Pedi de Umbu, 70 centavos.

O Português era bem louco no volante.

- aó ó, limite máximo aqui é 60km. olha quanto que eu tô. experiência é outra coisa...
e lá iamos a 100km/h.

E as ultrapassagens então, de filme! Seguimos viagem, com eu firmemente agarrado na porta, e com o cinto de segurança mais justo o possível.

Na chegada do Posto Fiscal de Feira de Santana:

- Vei, vei, não dá pra ir não.
Aquele reta interminável, uma fila de carro absurda, e ele querendo cortar.
- que isso rapaz, mole pra nós.
- dá não, dá não...
Um caminhão apontando lá na outra ponta da pista, vindo na nossa direção.
Mas ele foi.
Se eu peidasse eu explodia, tenso. Com aquele clássico efeito Doppler de buzina, no final dessas ultrapassagens milagrosas.

Paramos no posto.E fui lá carimbar a nota.
Aí vem um gordo baixo, com sotaque de Alagoas:
- tu que tá naquele caminhão lá? e aponta pro nosso dois andares.
- é uai.
- então tu é um cabra muito do filho da puta!
- ...
- tu não tem vergonha nessa sua cara não seu cabra safado.
E veio pra cima de mim. Dei uma corrida pra trás, sem entender nada! "Que porra é essa!" pensei.
- Tu nao é homi não bicho? Me fez sair da pista ali ó. - Aos berros.
Caiu a ficha. Se eu vi Jesus na ultrapassagem do Português, o Severino ali viu Jesus, 9 dos 12 apóstolos e Maria fazendo o moonwalking.
- cara não sou eu que tô dirigindo não.
- então o cabra é mais safado ainda, que te mandou aqui porque tá com medo!

saiu batendoo pé, entrou no caminhão. E foi.
Eu fui voltando pro caminhão.
Quando vi o Severino que pra mim, depois do susto, seguiria viagem, encostou ao lado do caminhão do Português.
Pronto. Vai sair tiro.
Apetei o passo pra tentar apaziguar.
Mas a confusão já tava lá. Uns caminhoneiro chegaram lá pra apaziguar também. Tiro não saiu.
Nem porrada. Porque o Português nengou até o fim que tinha sido ele.
- foi tu sim cabra safado!
- que eu nada, quantidade de caminhão aí na estrada.

O Severino voltou no caminhão, e eu gritei:
- Bora agora! esse cara volta aí traz uma arma gente tá fudido!

E partimos... cantando pneu, naquela agilidade toda de uma carreta dando partida.

Fomos até logo depois de Feira.
Depois do sufoco.

 Depois dali já iamos trocar de caminhão. O Jr. seguiria com o Portugues até Petrolina, e eu com o César até Recife.
A dúvida do César era passar pela BR101, que vai pelo litoral, ou pela BR 110, que vai por Tucano, Paulo Afonso, e corta o Alagoas. A 101, tá cheia de obras, e é muito movimentada, íamos demorar muito. Optou pela 110 então.
E a 110, segundo todos ali era muito tensa. Até o César tava com medo.
- ali é cangaceiro mesmo. recorde de assalto a caminhoes. povo tem dó não. passa niguém lá. desertidão pura.

César tinha uma carona pro voltar do Recife para o Rio que saía de lá 12h. Então ele tinha que chegar lá até esse horário.E queria passar a noite na estrada do cangaço.
- tá doido rapá. - eu né,desesperado.
- nada bicho, tenho que voltar 12h do recife.

Pois é. Íamos correr o risco de ser pegos pelos cangaceiros.
Nem com o Júnior pondo mais medo ainda na gente:
- ônibus ali só passa em escolta?
- escolta?
- é uai em bando.
- bando?
- é eles vao em bando de oito. um atrás do outro. só assim.

Fuck.

Direto para Recife

Alí eu tava frito. Se eu não arrumasse carona, teria que dormir na escada do Posto Fiscal, porque até a lanchonete de um posto há 3km dali, não era 24h.

Sempre que lembrava disso me empenhava mais a conseguir carona.
Tive muitas negações... Caminhoneiro tem medo. Por ali ocorrem muitos assaltos a caminhões, e a maioria das companhinas adotam medidas de segurança, como travar as portas do carona. Se o motorista abrir, a central é imediatamente informada, e liga perguntando porque foi aberta a porta.

Tentei então nao paracer com um assaltante. Peguei meu mapa, caderno, lápis, e fiquei ouvindo música. Com o mochilão sempre a vista. Sei lá, pra mim,dessa forma, eu não pareceria um bandido.

E ia pedindo, um a um.

- arruma carona até feira amigo? to saindo de minas aí. viagem larga... vê se dá essa força.
- pô já estamos ajudando esse rapazinho aí ó...
- se der pra me ajudar... agradeceria demais mesmo.
- vamo ver.

Claro que não daria. Sentei na mureta do posto. Quando escuto a buzina, e o coroa me chama.

Adeus posto fiscal!

E fomos desenrolando viagem afora. Não só tive a sorte de sair do posto fiscal, como arrumei o esquema dos esquemas.
Ele, o Português, tava indo até Petrolina. E o amigo dele, que tava no outro caminhão até Recife. Sim. Recife.
Chegando em Feira de Santana, que onde a estrada separa, o mulek ia pro caminhão doPortuguês, e ele disse que não teria problema eu ir com o amigo dele até Recife!

Nem acreditei! Assim, até quarta feira, bem antes do esperado já estaria no carnaval de Recife!

 Numa parada pra gente almoçar, em Poções, fiquei sabendo da história do mulek. Tava vindode São Paulo, 21 anos, voltando pra Sertânia em Pernambuco. Tinha ido trabalhar numa empresa lá que seria o futuro certo. Porém foi uma enganação. O salário não era o esperado, não tinha alojamento, e não tinha auxílio nenhum.
Tomou coragem e decidiu voltar pra Sertânia. Sem dinheiro.
Ficou dois dias em Além Paraíba elá encontrou o Português e o César. Estava há dois dias sem comer (o cara da lanchonete negou até resto de comida) e eles se sensibilizaram com o pedido do mulek (que chama Junior).
É, mais um entre tantos que vão pra São Paulo, mas entre tantos, um dos poucos que conseguem voltar.

Em cada parada, gente ia conversando um tanto. E o mulek era gente fina ainda.
Me convidou pra ir lá em Sertânia comer a buchada de bode do vó dele e disse que me ensina a tocar zabumba e uns instrumentos doidos lá.
Expectativa pra ligar o motor e passar a marcha.
O caminhão liga!

Show!

Seguimos até o destino onde a gente deveria ter passado a noite anterior. No Faisão, em Águas Vermelhas, última cidade mineira antes de entrarmos na Bahia.

Chegando no Faisão, o Jr. pediu pra eu descer do caminhão, porque tinha um cara lá emoutro caminhão da empresa que não podia ver que ele tava dando carona.
É caminhoneiro, que trabalha em caminhão de empresa, não pode dar carona. Mas a maioria dá. É muito solitário ficar viajando por aí, 8 horas, 10 horas por dia. E é sempre bom ter alguém pra conversar, diminui a distância.

Desci fora do posto e ele foi lá estacionar o caminhão.
Mas não é que o cara do outro caminhão viu que ele tava comigo de carona.

- tu tá levando carona é junior.
- que isso cara. o mulek que ajudou com o caminhão que tava com defeito lá em itaobim, e pediu pra eu trazer ele no posto fiscal ali de vitoria da conquista. só isso. ter que ajudar o mulek né.
- é tem que ajudar.

Estava lá no restaurante do posto. E vem o "amigo" e o Jr.
O cara veio todo todo, querendo encostar o Jr. na parede (o Jr. não sabe mentir...), e pra tirar a verdade de mim.
- muleque, tu tá indo pra onde.
Olho pro Jr. e ele transparescendo um desespero.
Eu eu sei lá o que o Jr. havia falado com ele. Qualquer coisa que eu falasse ali, poderia atrapalhar demais o Jr.e o pela saco, era insistente.

- mmm. falei eu.

e nem sei de onde tirei isso. mas fiz uma imitação tosca e patética do jornal visual.
não sei Libras, e o cara muito pouco. na primeira dúzia de sinais que eu fiz. a cara embasbacada do cara. e o jr solta.
- viu, tá indo pra vitória!
- e tu lá sabe linguagem de surdomudo rapaz...
- mais ou menos. mas ele me ajudou escrevendo num papelzinho.

Só sei que deu certo. E ficamos rindo depois da sorte e de como bizarro foi aquilo.

Deu pra ele escapar da mentira. Mas mesmo assim, não ia ter como me levar até Feira.
E me deixou no Posto Fiscal de Vitória da Conquista.

Daqui vou tentando carona até Feira de Santana. Se de lá eu não arrumar, durmo na casa do Jr (to com o telefone dele).


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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Carona até Feira!

Filtro solar e plaquinha de Vitória da Conquista em mãos.
Em uma hora parou uma carreta.
Cara tava indo pra Feira de Santana.
O Júnior Washington, baiano arretado que só a porra.

Aí que eu percebi que não fala baianês. O cara tinha que repetir três vezes, pra eu entender.

- rapaz tu é doido demais que só a porra. tu não tem medo não bichinho?
- nada cara... vou me arrumando aí. e a idéia é tentar chegar em recife antes do galo sair.

O galo. O famoso Galo da Madrugada.

- tá doido...

E ficou lá me chamando de doido a viagem toda. Falando naquele baianês que tava difícil de entender.
Mas já deu pra sacar o que ia me esperar até então, cada música mais doida que a outra. E um tal de Zezo foi tocando a viagem toda.


Logo na arrancada saindo de Valadares, o caminhão já mostrou que ia dar trabalho a viagem toda.
Parou na subida, e o Jr. teve que deixar ele voltar de ré, pra arrancar de novo.

- rapaaaaz. esse caminhão parece que vai dar a doida.

E deu mesmo. Em quase toda subida larga tivemos que voltar, pra arrancar de novo.
Ou subir de terceira, a 5km/h. Agilidade pura e total. Desse jeito ia chegar em Feira uns 3 dias depois.

Chegamos em Itaobim e o caminhão decidiu morrer de vez por ali. Falha no sistema do botão que precisa apertar pra marcha descer.
Solução, dormir por ali mesmo. E esperar para que a carreta reaja, no outro dia, pra gente tocar viagem.


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A princesinha do Vale

Cheguei a Valadares, terra dos botocudos e de recordes de temperatura nas Minas Gerais.

Vim com o Daniel, e paramos aqui na Vemasa.
Almoçei por aqui mesmo na empresa, um rango muito bom.

Daqui sigo viagem.
Deixei pra passar em Coroaci na volta da viagem. Mas que eu vou eu vou, quero ir lá visitar a Dona Helena, Seu Manoel, o Sérgio...
Quero passar no Oziel Pereira Alves também, ver o Bernardo e o povo do assentamento.

Mas agora a idéia é chegar o mais rápido possível ao carnaval de Recife.

Daniel fez as plaquinhas pra mim. E o motorista vai me deixar ali na saída de Valadares.

E que a sorte esteja comigo!

Música

Hoje estou partindo. Novamente.
Esse blog é na verdade pra família não se preocupar e ao menos saberem por onde estou passando. E enquanto isso vou divagando sobre coisas boludas.


Sigo rumo à São Luís no Maranhão. Parando em várias cidades pelo caminho.
Com a mochila rasgada. Mochila guerreira que me acompanhou até o Peru vai ter que ser consertada pelo caminho afora. É o jeito.
Quando fui reabrir o apartamento, levei um tanto de coisa que estava aqui em Muriaé. E quando voltei, trouxe uma mochila bem pequena só, achei que ia voltar pra lá antes de partir. Mas nem...

O Alvim me deu uma força mandando minha câmera e meu cartão do banco (só nao ta no vermelho, porque nao tenho cheque especial). Depois que chegou pelo ônibus, lembrei de milhões de coisas a mais que vão fazer falta, mas já era...

Não bastando ter milhões de coisas que não vou levar porque ficaram em JF, ainda tive o azar de quebrar meus óculos ontem, dormi quando estava lendo, e acordei com ele esmagado embaixo da bunda. Achei um óculos velho aqui, que nem é meu grau, mas que vai quebrar o galho até eu comprar um outro pelo caminho.

Daqui a pouco o Daniel vai passar aqui, enquanto isso estou escolhendo umas musicas para levar.
Levando um pouco de Tom Zé, Novos Baianos, Kings of Leon, Caetano, Chico e Dorival.
Miles Davis e Chet Baker (inspiração para o meu lamentável - sofrido pra mim e pra quem escuta - aprendizado no trompete) também.
E música clássica. 
Não, não conheço nada de música clássica, mas tive algumas boas influências recentemente, e não acho chato mais. O que conhecia antes era por filmes, Woody Allen, Kubrick, Visconti. Ainda não estou na de ouvir sinfonias, mas uma sonatinha pra piano ou quarteto de cordas é de boa.

Na verdade, o negócio é que essa coisa de música erudita não combina muito bem com Brasil. A parada aqui é outra coisa. É áfrica! É percussão!
Mas a gente tem que ouvir de tudo. Tudo que é bom.
Até no Chapolim tem música clássica!  

Uma vez estava lendo um crítico de teatro tentando explicar o Felipe Hirsch. O cara simplesmente vê todos os bons filmes, lê tudo que é bom, artes, arquitetura, ouve música... e aplica no teatro. Não tem como não dar certo uma peça do cara. Essa mistura do que é bom que te define.

Enfim, viajando demais já.

Em determinados momentos me faz bem escutar música clássica. E ponto.
Mas é muita loucura passar pelo Nordeste em época de carnaval com o MP3 cheio de música clássica...
Não tô batendo bem não...
Precisando ir pra trás de um trio, na praia, isso sim.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Ouro Preto




Sempre é um prazer visitar Ouro Preto.
E a última vez que estive lá não foi diferente. Fui com a Mailys uma amiga da França que conheci em Buenos Aires na faculdade. Ela tinha chegado ao Rio com mais umas argentinas amigas, e me disse que gostaria de conhecer Minas. Claro, depois de ouvir muita propaganda positiva do meu estado querido. 
Eu sempre dou uma de lobbista de Minas Gerais.

Saímos de Juiz de Fora rumo à Viçosa de carona. Com plaquinha na mão, lá fomos nós pra saída do bairro Grama. Tá tá... seguir pela BR040 é melhor e mais perto, mas já estava acostumado a pedir carona por esses lados, e não estava muito afim de inovar.
E também porque aproveitaria a ida e visitaria um amigo de Viçosa, o Emílio.

Não é muito comum caminhões pararem nessa saída, mais carros mesmo. Mas dessa vez, atipicamente um caminhão parou. E lá fomos num caminhão do Bahamas.

O caminhão ia até Ponte Nova, mais perto ainda de Ouro Preto, a visita ao Emílio teve que esperar um pouco... Carona é carona né.

E o caminhoneiro super gente fina, viemos conversando bastante. Ele estava bem curioso no porque de uma francesa pedindo carona no Brasil... e na gente, que ficava falando espanhol o tempo todo. Expliquei que haviamos estudado juntos em Buenos Aires e que agora ela ia ficar um tempo por aqui no Brasil, e eu a estava levando para conhecer alguns lugares de Minas.
Conversamos muito do Lula (ele vai votar na Dilma!) e em viagens, e até o convenci a ir pra Bolívia nas férias dele. 

- Mas é barato mesmo esses países aí?
- É uai...
- Então eu vou então!

Em Ponte Nova, descemos no Bahamos, destino final do caminhão.
E lá fomos nós procurar a casa de uma amiga que estudou comigo em Viçosa, a Denise, DD ou DDzão. Já fiquei na casa dela uma vez lá, mas não fazia idéia onde ficava... Fui perguntar na praça se alguém conhecia a professora Marisa Godoy (a mãe dela, professora de quatro idiomas!). Não foi muito difícil, logo me indicaram direitinho onde era.

Foi um prazer ver a Denise de novo... Aproveitando que tinha internet lá, mandei uma mensagem pra um couchsurfer, o Celso, vendo se ele podia receber a gente lá. Mas até a noite ele não havia respondido. Estavamos sem casa e Ouro Preto. E indo pra lá do mesmo jeito. Parti do principio que certamente iriamos conhecer alguém no Barroco e desenrolar um pedido amistoso de abrigo...
A família dela é super gente boa, e os quatro cocker spaniel dela também. A mãe dela fez lanche pra gente, e colocou a Mailys pra dormir com um beijinho na testa... É, no fim das contas, decidimos ficar uma noite lá, já que já tinha escurecido.

Dia seguinte nem demoramos muito para conseguir carona, só tivemos que andar muito! Subimos e descemos um morrão até achar um quebra molas. Ahh lembra do Celso do couchsurfing? Então quando a gente tava indo pro ponto, ele liga pra gente! Super gente boa, falou que não tinha problema da gente ficar lá.
Tínhamos abrigo em Ouro Preto!

Fomos pro Barroco, meu bar preferido em Minas, e ficamos por lá esperando o Celso sair do trabalho... "Te encontro no Barroco" é o slogan do bar, e como goiabada com queijo, não poderia cair melhor.
Não chamo de casual, porque afinal, é o Barroco, mas lá encontrei com a Isabela, uma figura gente finíssima de Juiz de Fora, e ela e o Gabriel, amigo dela, foram uma das agradáveis companhias que tivemos nas nossas bebeções de pinga com mel e afins em Ouro Preto.

Afinal conhecemos o Celso, que apareceu por lá também. Super gente boa, camarada mesmo, e nos recebeu muito bem na casa dele.

Encontramos um grupo de franceses (loucos e insanos) lá também, cantando, gritando, e que parou o bar.
Eu gosto de gente assim. E lá fui eu gastar o meu pífio francês de livemocha e de filmes do Truffaut

Para a mademoiselle mais eufórica:
- le feu, sil vous plait.

 pra quê...
- PARLEZZZ FRANÇAIS?????
E começou a gritar e rir com os amigos dela, apontando pra mim... eu sem entender um nada. Definitivamente não falo francês.

Depois que descobriram que a gente tava com uma francesa também, ixi... melhores amigos.
Ganhamos muitas (muitas!) rodadas de caipirinha e depois ainda fomos depois pro terraço da casa do Celso (só os sobrevivente, alguns franceses cairam em combate, não é fácil acompanhar a gente!)... nos acabar com a pinga que eu tinha levado e umas cervejas que tinha lá.

No nosso último dia, encontramos com o Celso lá perto do trabalho dele e ele levou a gente até o ponto de carona. Na saída pra Lavras Novas. Fomos com um veterinário, Cristiano de Carvalho, a gata dela tinha parido, e ele tava levando os filhotinhos até Lafaiate, que nos mostrou um pouco da cidade (é tão pertim Lafaiete e eu não conhecia) e depois nos deixou na saída da cidade.

Não demorou 5 minutos parou um senhor que tava indo pra Leopoldina e nos deixou na estrada perto de Barbacena...

Alí fiquei um pouco preocupado porque era estrada, estrada mesmo, BRzona... não tinha nada perto, já estava meio tarde (em ouro preto haviamos ido pro ponto as 16h!) e eu comecei a cogitar a idéia de dormir por ali mesmo na varanda duma casa que parecia que não tinha ninguém...

Mas não demorou e parou um carro, um cara muito boca boa, que trabalha na usina de Angra...
Mal parou o carro e já foi falando...

- Agradece a mocinha aí porque eu nao ia parar não... deixar mulher na estrada é fogo... comigo nao tem disso não!
E com aquele sotaque carioca...

Fomos ouvindo os novos sambas enredos das escolas do Rio (o da União da Ilha, que ta voltando agora pro grupo especial tá muito massa), João Bosco e Toninho Horta Viemos falando de música boa, de viagens, e da filha dele (que é cobra criada nos computadores) de lá até Juiz de Fora, e a Mailys dormindo.

Ahh dessa viagem a Ouro Preto não da pra esquecer do Kênio... Kênio Maximiliano! Um guia gente boa que deu uma aula 0800 de história mineira e barroca na Igreja do Pilar e queria praticar o espanhol dele (que é perfeito). E nos explicou o curioso caso de Branquinha (Blanquita! espanhol... em espanhol...), uma cadela gigante (o cachorro mais grande de obeso que já vi) um tanto geniosa, que fala (??!) com as pessoas, e mora numa casa que fica com as portas abertas pra ela sair quando quiser e principalmente para ir à Igreja todo dia que tem missa.
Quando eu voltar lá ele vai me mostrar como funciona o garimpo na região, a paixão dele...
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