terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Direto para Recife

Alí eu tava frito. Se eu não arrumasse carona, teria que dormir na escada do Posto Fiscal, porque até a lanchonete de um posto há 3km dali, não era 24h.

Sempre que lembrava disso me empenhava mais a conseguir carona.
Tive muitas negações... Caminhoneiro tem medo. Por ali ocorrem muitos assaltos a caminhões, e a maioria das companhinas adotam medidas de segurança, como travar as portas do carona. Se o motorista abrir, a central é imediatamente informada, e liga perguntando porque foi aberta a porta.

Tentei então nao paracer com um assaltante. Peguei meu mapa, caderno, lápis, e fiquei ouvindo música. Com o mochilão sempre a vista. Sei lá, pra mim,dessa forma, eu não pareceria um bandido.

E ia pedindo, um a um.

- arruma carona até feira amigo? to saindo de minas aí. viagem larga... vê se dá essa força.
- pô já estamos ajudando esse rapazinho aí ó...
- se der pra me ajudar... agradeceria demais mesmo.
- vamo ver.

Claro que não daria. Sentei na mureta do posto. Quando escuto a buzina, e o coroa me chama.

Adeus posto fiscal!

E fomos desenrolando viagem afora. Não só tive a sorte de sair do posto fiscal, como arrumei o esquema dos esquemas.
Ele, o Português, tava indo até Petrolina. E o amigo dele, que tava no outro caminhão até Recife. Sim. Recife.
Chegando em Feira de Santana, que onde a estrada separa, o mulek ia pro caminhão doPortuguês, e ele disse que não teria problema eu ir com o amigo dele até Recife!

Nem acreditei! Assim, até quarta feira, bem antes do esperado já estaria no carnaval de Recife!

 Numa parada pra gente almoçar, em Poções, fiquei sabendo da história do mulek. Tava vindode São Paulo, 21 anos, voltando pra Sertânia em Pernambuco. Tinha ido trabalhar numa empresa lá que seria o futuro certo. Porém foi uma enganação. O salário não era o esperado, não tinha alojamento, e não tinha auxílio nenhum.
Tomou coragem e decidiu voltar pra Sertânia. Sem dinheiro.
Ficou dois dias em Além Paraíba elá encontrou o Português e o César. Estava há dois dias sem comer (o cara da lanchonete negou até resto de comida) e eles se sensibilizaram com o pedido do mulek (que chama Junior).
É, mais um entre tantos que vão pra São Paulo, mas entre tantos, um dos poucos que conseguem voltar.

Em cada parada, gente ia conversando um tanto. E o mulek era gente fina ainda.
Me convidou pra ir lá em Sertânia comer a buchada de bode do vó dele e disse que me ensina a tocar zabumba e uns instrumentos doidos lá.

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