terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Milagres e apuros

Até Jequié, eu tinha vindo na minha suíte. Capotado. Estava morrendo de cansaço.
A minha suíte era o caminhão de cima. Cada um, estava levando dois caminhões zerados, um eles iam dirigindo, e o outro como carga. E lá fui eu.

Depois eu desci. E nem animei a subir de novo. O Português dirigia indestemidamente. Tá doido. Melhor ir ali mesmo, pra ver, e ir conversando com ele mesmo. Opinando em cada ultrapassagem.

Paramos em Milagres, para tomar um sucão que é famoso lá.
Pedi de Umbu, 70 centavos.

O Português era bem louco no volante.

- aó ó, limite máximo aqui é 60km. olha quanto que eu tô. experiência é outra coisa...
e lá iamos a 100km/h.

E as ultrapassagens então, de filme! Seguimos viagem, com eu firmemente agarrado na porta, e com o cinto de segurança mais justo o possível.

Na chegada do Posto Fiscal de Feira de Santana:

- Vei, vei, não dá pra ir não.
Aquele reta interminável, uma fila de carro absurda, e ele querendo cortar.
- que isso rapaz, mole pra nós.
- dá não, dá não...
Um caminhão apontando lá na outra ponta da pista, vindo na nossa direção.
Mas ele foi.
Se eu peidasse eu explodia, tenso. Com aquele clássico efeito Doppler de buzina, no final dessas ultrapassagens milagrosas.

Paramos no posto.E fui lá carimbar a nota.
Aí vem um gordo baixo, com sotaque de Alagoas:
- tu que tá naquele caminhão lá? e aponta pro nosso dois andares.
- é uai.
- então tu é um cabra muito do filho da puta!
- ...
- tu não tem vergonha nessa sua cara não seu cabra safado.
E veio pra cima de mim. Dei uma corrida pra trás, sem entender nada! "Que porra é essa!" pensei.
- Tu nao é homi não bicho? Me fez sair da pista ali ó. - Aos berros.
Caiu a ficha. Se eu vi Jesus na ultrapassagem do Português, o Severino ali viu Jesus, 9 dos 12 apóstolos e Maria fazendo o moonwalking.
- cara não sou eu que tô dirigindo não.
- então o cabra é mais safado ainda, que te mandou aqui porque tá com medo!

saiu batendoo pé, entrou no caminhão. E foi.
Eu fui voltando pro caminhão.
Quando vi o Severino que pra mim, depois do susto, seguiria viagem, encostou ao lado do caminhão do Português.
Pronto. Vai sair tiro.
Apetei o passo pra tentar apaziguar.
Mas a confusão já tava lá. Uns caminhoneiro chegaram lá pra apaziguar também. Tiro não saiu.
Nem porrada. Porque o Português nengou até o fim que tinha sido ele.
- foi tu sim cabra safado!
- que eu nada, quantidade de caminhão aí na estrada.

O Severino voltou no caminhão, e eu gritei:
- Bora agora! esse cara volta aí traz uma arma gente tá fudido!

E partimos... cantando pneu, naquela agilidade toda de uma carreta dando partida.

Fomos até logo depois de Feira.
Depois do sufoco.

 Depois dali já iamos trocar de caminhão. O Jr. seguiria com o Portugues até Petrolina, e eu com o César até Recife.
A dúvida do César era passar pela BR101, que vai pelo litoral, ou pela BR 110, que vai por Tucano, Paulo Afonso, e corta o Alagoas. A 101, tá cheia de obras, e é muito movimentada, íamos demorar muito. Optou pela 110 então.
E a 110, segundo todos ali era muito tensa. Até o César tava com medo.
- ali é cangaceiro mesmo. recorde de assalto a caminhoes. povo tem dó não. passa niguém lá. desertidão pura.

César tinha uma carona pro voltar do Recife para o Rio que saía de lá 12h. Então ele tinha que chegar lá até esse horário.E queria passar a noite na estrada do cangaço.
- tá doido rapá. - eu né,desesperado.
- nada bicho, tenho que voltar 12h do recife.

Pois é. Íamos correr o risco de ser pegos pelos cangaceiros.
Nem com o Júnior pondo mais medo ainda na gente:
- ônibus ali só passa em escolta?
- escolta?
- é uai em bando.
- bando?
- é eles vao em bando de oito. um atrás do outro. só assim.

Fuck.

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