quarta-feira, 17 de março de 2010

6000km



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6000km percorridos.  35 dias na estrada.

Porque valeu?
A priori, foi um mês que tirei pra mim. Para viajar por viajar. Sem luxos. As vezes com um dinheiro a mais, as vezes sem dinheiro algum. Indo para o onde o vento me levasse, ficando o tempo que cada lugar pedia. Pode ser piegas, mas boa parte de tudo isso foi para refletir mesmo. E assim me conhecer.

Viajei pelo sertão da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará, conheci a terra do Lulita, Garanhuns (que fica na serra e faz um frio danado) e me perdi de encanto pelo Velho Chico - e entendi o fascínio que gerado por ele - com suas águas verdes e seus cânions ocres.
Experimentei o carnaval de frevo e maracatu no Recife, e da tradição das fantasias e ladeiras de Olinda.

Valeu demais por experimentar a tapioca de carne de sol em João Pessoa, por nadar com golfinhos e pela falésias intermináveis de Pipa, caminhar por Ponta Negra e subir as dunas de Genipabu em Natal, me matar com Pitú em Mossoró, pelo samba, chorinho e caranguejos de Fortaleza e o universo paralelo - e aquela vontade de ficar pra sempre - proporcionada por  Jericoacoara.

Jericoacoara





Ainda não me inspirei para escrever sobre a minha experiência em Jericoacoara, mas deixo as impressões do Marcos, el loco de Barcelona... um grande amigo que fiz nessa viagem.
Pienso en las razones que uno puede tener para visitar un lugar como Jericoacara:
un lugar ideal para practicar kite surf, o para hacer sunboard, o un lugar para simplemente "desconectar" del mundo?
Creo que todos los motivos son validos cuandos se trata de Jeri.
Pero la aventura de Jericoacoara comienza antes, antes de llegar.
Partimos desde Fortaleza por la manana y despues de casi 5 horas llegamos al pueblo de Jijoca, alli nos esperaria una "jardinera" (un jeep bus) que nos trasladaria a Jericoacoara.
Allì es donde comienza la aventura, el recorrido comienza con un tramo de trocha de color marron arcilla para luego entrar en pleno desierto de la Reserva nacional de Jericoacara, un caminito de arena blanca nos va dando una buena premonicion, el acceso esta restringido solo para boogies y 4 x 4 autorizados por la region y no hay transporte publico para ir desde Jijoca a Jericoacara, solo unas 4 x 4 que por 10 reales te llevan a Jeri.
Derrepente se revelan unas grandiosas dunas de arena blanca, derrepente un oasis, derrepente unas lagunas verdes,derrepente vacas y toros en pleno desierto, y derrepente estamos todos alucinados...silencio total...superamos las espectativas.
Llegamos al pueblo y nos comentan que no hay electricidad que alumbre las calles, esta prohibida, no hay correo, solo la luz de las casas alumbra indirectamente las pocas calles de Jeri, y las calles son de arena blanca, asi como lo oyen, aqui no hay pavimento, y la arena es la misma que encuentras alrededor de las dunas o en la playa, por lo cual solo se puede caminar descalzo o en sandalias, y al hacerlo tus pies se hunden en la arena.
Todo es muy tranquilo, no hay mansiones, ni centros comerciales, ni grandes clubes o discotecas.
La plaza principal es un campo de arena pesada en donde un pequeno estrado con un par de parlantes nos revela un evento, se esta homenajeando al gran poeta Cearense "Patativa", si, aquel de la literatura de cordel, al poeta de la calle, unas sillas de plastico alrededor y eso es todo.
Jeri es Sencilla, sin pretenciones, con gente que viene a desconectar, con gente que viene por unos dias y termina quedandose una vida como Irene la Capoerista Argentina, o Marcello el Pizzero Italiano, o aquellos que llegaron luego y fueron creando una de las 140 posadas de Jeri.
La playa principal es espectacular, el atardecer en la dunas es magico y el cielo!... bueno... el cielo y sus constelaciones es quizas lo mas espectacular.
Hay mucho por hacer en Jeri, recorrer las diversas lagunas, pasear a caballo, caminar, hacer deporte etc..pero lo que es prioritario en Jeri, es simplemente elevar los sentidos y percibir lo que este lugar desconectado del mundo tiene para ofrecer, aquella energia especial, cuando eso sucede, hay un riesgo, que te quieras quedar, muchos lo hicieron y muchos lo haran, yo al menos, desde el primer dìa, decidì que en un lugar como Jeri, solo una senal me dirìa "es tiempo de partir", ... creo que hay pocos lugares en el mundo como Jericoacara, y hasta ahora confirmo que es lo mejorcito que he visto en Brasil,...y asì, los dias fueron pasando, la senal llegò; dejo Jeri y me despido del companero Ronan que pega la vuelta para Minas.
Hoy escribo desde Sao Luis de Maranhao, desde otro Brasil, pero esa, esa es otra historia!.
Local Ceara - Brasil

segunda-feira, 8 de março de 2010

10 dicas para pegar carona

Caro leitor, você alguma vez já pegou carona? Você já imaginou contornar todo o litoral brasileiro apenas no dedão? Você acha que isso é papo de homem ou papo de maluco?

tripping
Onde nós estamos, Fred
Pois saiba que o gesto clássico com o polegar no ar foi um símbolo do Brasil dos anos 60, quando ainda havia poucas estradas e automóveis em nosso território. Infelizmente, sem o mesmo romantismo de antes, a carona hoje sofre com o preconceito, taxada por muita gente como uma prática quase restrita a hippies mal cheirosos, policiais fardados, andarilhos e prostitutas.
Provando ser possível resgatar o uso e a importância desse transporte alternativo, surgiu em 2006 a Expedição Carona Interativa, projeto que já contornou todo o litoral brasileiro somente na carona e agora pretende mostrar a viabilidade dessa prática em outros países da América do Sul.
Durante as etapas nacionais, que duraram cerca de cinco meses entre Curitiba e São Luis do Maranhão, foram registrados centenas de relatos e fotografias no blog da expedição, divulgando informações de lugares paradisíacos e desconhecidos, além de incontáveis histórias de curtição que deixaria até o Dr. Love com inveja!
Para ajudar os leitores que ainda não descobriram a incrível sensação de viajar dessa forma, a Expedição coloca aqui algumas dicas básicas de como pegar carona com tranqüilidade e curtir o lado bom da vida!
Antes de tudo, o aspirante a caroneiro deve ter consciência do seguinte lema: “nunca dar trabalho ao motorista”. Deve-se facilitar ao máximo a vida do condutor, para que ele possa identificar o caroneiro, parar com segurança e forncer carona sem nenhuma dificuldade.

1) Viaje sozinho ou em casal

Carona não é fácil, imagine então viajar junto com mais de duas pessoas e achar espaço para embarcar todo mundo. Sozinho você consegue encarar as caronas mais impossíveis, em lugares que às vezes mal cabe sua mochila.
carona
O ângulo certo do dedão faz toda a diferença
Viajando em casal, a mulher desponta uma atenção maior do motorista, fazendo muita gente encostar para ajudar. Já dois homens, por exemplo, inibem o condutor solitário, que mesmo disposto a dar carona, não vai parar por falta de segurança, pois no pensamento dele caso aconteça algo são 2 contra 1.

2) Se posicione no lugar certo

Na beira do acostamento o motorista precisa ver você. Para que isso ocorra com maior tranqüilidade, o trânsito tem que estar lento, devagar. Poucos têm a boa vontade de socorrer um viajante quando o carro está voando a 120 km/h.
Deve-se procurar um ponto de redução de velocidade, após cruzamentos viários, entroncamentos, trevos, lombadas ou postos da polícia rodoviária. Se nada disso estiver por perto, fique num trecho reto da estrada, sem subidas, descidas ou curvas perigosas. Certifique-se que o acostamento é seguro, longe de buracos ou desníveis para o motorista parar com facilidade.

3) Fuja da área urbana

Locais urbanos circulam muita gente, dando uma sensação de insegurança para o motorista amigo da carona.
Sem falar das saídas de muitas cidades, com periferias perigosas para qualquer cidadão. Nos grandes centros a melhor coisa a fazer é pegar um ônibus para uma cidadezinha próxima, onde possa descolar carona sem medo.

4) Carona com mochila nas costas

Mesmo estando cansado de carregar aquela mochilona pesada, na hora de tentar carona é bom fazer um sacrifício mantendo ela nas costas, pelo menos na primeira meia hora de espera.
carona2
- Eu sei desenhar. Dá carona?
O condutor que passar por você, acaba deduzindo que se trata de um viajante e não de um malaco qualquer querendo aprontar alguma. O tamanho da mochila também faz comover o motorista, pois muitos encostam para perguntar se está perdido ou precisando de ajuda.

5) Diga seu destino

Leve um caderno de desenho para escrever os destinos almejados, como se carregasse uma plaquinha indicativa. As caronas passam a ser mais precisas, sem a necessidade do caroneiro fazer muitas conexões.
Tome cuidado com o destino escolhido. Às vezes, em locais de pouco movimento, não é recomendado o uso dessa estratégia, pois pode restringir demais as opções de carona.

6) Leve um bom mapa

Decore todas as ruas e cidades da região onde você está. É comum o motorista parar e dizer que só vai, por exemplo, até o Cafundó do Leste. Se não souber onde fica tal fim de mundo, poderá perder caronas importantes e acabar não saindo do lugar.

7) Nunca fique parado

Se não está conseguindo ir para o lugar desejado, tente uma cidade mais próxima, uma carona curta, ou um outro ponto de carona.
caroneiro
Estou nesse mesmo exato local há 22 anos, 7 meses e 14 dias, seu fedelho mimado
Ficar muito tempo parado desperta olhares de curiosos e malandros, que sempre aparecem depois de certa hora, até mesmo nos lugares mais despovoados.

8 ) Conte com a ajuda dos outros

Na dificuldade, procure um posto de gasolina ou da polícia rodoviária. Converse com os frentistas e policiais sobre tua carona pretendida. A maioria vai querer te ajudar. Quando alguém parar para abastecer, por exemplo, tente uma abordagem direta.
Por mais que seja constrangedor, fale o que pretende, seja simpático e educado. Em lugares turísticos, fique de olho nas placas dos carros que estão estacionados. Perguntes ao guardador quais deles estão lotados ou com pouca gente. Seja cara de pau. Em cada quatro tentativas, uma dá certo.

9) Descole carona com antecedência

Chegando nos povoados e vilarejos, converse com o povo sobre as caronas que pretende fazer amanhã ou nos dias seguintes. Em lugares menores, todo mundo se conhece e é muito comum alguém lhe informar quem costuma ir para tal lugar com freqüência. Não é sorte e sim comunicação.

10) Esteja preparado para tudo

As caronas podem variar desde um confortável carro de passeio, com ar condicionado e companhias agradáveis, até pairar por caçambas sujas de caminhões e sinistros paus-de-arara.
pegando-carona
Pegar carona é um estado de espírito!
Sem humor e gosto pela aventura, dificilmente conseguirá viajar de carona com prazer, curtindo cada situação encontrada como uma nova experiência de vida. Mas cuidado! Depois da primeira trip com sucesso, você verá que pegar carona vicia e causa dependencia.


Extraído de: http://papodehomem.com.br/10-dicas-para-pegar-carona-o-resgate-de-um-estilo-de-vida/#comment-126947

segunda-feira, 1 de março de 2010

Fortaleza: Domingo, 28 de fevereiro

Depois de dois dias tentando carona para sair de Mossoró, cheguei a Fortaleza.
No primeiro dia, fomos eu Thiago e Marco para a saída de Mossoró, sentido Canoa Quebrada.
Depois de umas boas 4h e a testa queimada de sol, voltamos eu e Thiago. Marco seguiu com um taxi até Canoa.
Carona é sorte, e tem as suas regras. Uma delas é, nunca tente carona em tres, ainda mais se forem tres homens.
A ordem de facilidade é:
2 mulheres
1 mulher
1 casal
1 homem
2 homens
depois já vai culminando para níveis absurdos de dificuldade.

No segundo dia, planejei ir cedo para o posto ipiranga, na saída da BR 304 de Mossoró.

Exibir mapa ampliado
Com 2 reais no bolso, nem poderia cogitar pegar ônibus. Sabe-se lá quando eu precisaria dessas escassas moedinhas.
No dia anterior haviamos tentado carona ali na saida do posto, com plaquinha, porém nao foi nada eficiente nossa tentativa.

Eu estava doido pra ir pra Canoa Qubrada, porém sem dinheiro no bolso para taxi. Tentei até o ultimo momento. Começou a escurecer. Já era. Carona de noite é furada. Não é impossível. Mas já estava vencido pelo cansaço também.

Nao havia quebra-molas, e os carros nao iriam parar por nada. Os caminhões já haviam arrancado, e também nao iriam freiar, a menos que fossemos tres loiras bundudas com uma minisaia.


Minha tática era então a aproximação corpo a corpo.

Perguntei a alguns caminhoneiros que estavam almoçando ao lado do caminhão:
- fala amigo, desculpa incomodar aí, mas vocês não estão indo no sentido Fortaleza não?
- gente tá indo sim, mas estamos esperando carregar o caminhão. gente saí só amanha de tarde.

Não, nada de esperar. Já havia aproveitado bastante Mossoró, e além do mais não podia ficar uma noite mais, e sacrificar uma noite a menos ou em Canoa Qubrada ou em Fortaleza.

Perguntei a alguns outros caminhoneiros e carros que paravam na bomba. Mas nada.
Definitivamente sair de Mossoró de carona é um pouco complicado.

Fiquei por 4h tentando. Umas 17h da tarde, já escurecendo, fui ao restaurante do posto, desconsolado.
Foda!
Sem dinheiro, perguntei se o café era cortesia.
"é sim menino"
Tomei um, dois, tres de uma vez.
Sentei na mesa, abri o mapa, analisei a distancia que ainda teria que viajar, praguejando o mundo internamente - estava rabugento nessa hora - e pedi mais um café.
Um senhor se aproximou:
"isso aí é cd pirata é?"
Sim, ele pensou que eu era vendedor de cd pirata, olhando pro meu mochilão e pra minha cara de estou-carregando-essa-mala-ha-20-dias.
- não, não amigo... só estou viajando por aí mesmo.
- ahhhh...
Se ele não virasse as costas tão rápido, iria convidá-lo para tomar um café cortesia comigo. Queria conversar.

Tomei mais um café, e sob alguns olhares curiosos, comecei a escrever uma nova placa: FORT. (nao cabia fortaleza no A4). E saí do restaurante para perto das bombas outra vez. Voltar para uma noite mais em Mossoró seria a aceitação do fracasso. E era noite de luau em Canoa Quebrada.

Levanto a placa uma vez mais para um caminhoneiro que estava de saida do restaurante:
- Fortaleza! Aracati?? Canoa???
- Ahnn... tô indo pra lá.
- FORTALEZA?? Sério???
- Bora fi...

Não acreditei, e sai correndo com a mochila de 20kg todo desengoçado pro caminhão.

O cara é muito doido. Caminhoneiro doidera mesmo.
Mal entrei no caminhão:
- TU TÁ ARMADO??
- não po, que isso.
- ENTÃO SIMBORA!
E partiu dando uns tapas na porta do caminhão.


Demorou até termos confiança um no outro. E muito embora eu tivesse afirmado que não estava armado, só depois de haver contado a minha história, dos lugares que havia passado, das pessoas que havia conhecido o clima melhorou um pouco.
Foi uma das caronas mais agradáveis, autoexplicativas da vida de caminhoneiro e nonsense de toda essa amalucada viagem.

O cara me contou táticas pra não dormir: "Cocaína, desobese e whisky se tiver com grana, conhaque se tiver duro, tiro e queda.".
"Em dia que eu rodo 12h eu me sinto mal, pra eu render, e ficar tranquilo, rodo 18h por dia. Já rodei 32h seguidas pra não perder o prazo da entrega."
De policiais de beira de estrada: "Policial honesto é uma merda! Bom é policial corrupto, que cobra uma propininha pra facilitar pra nóis".
Passamos de discussões acirradas sobre o sistema educacional e sobre putas que fumam crack, e pela dura e perigosa vida de caminhoneiro.
Passei a entender o caminhoneiro nessa viagem. Passar a vida na estrada, estar em casa por 10 ou até 5 dias só no mês. O Brasil é um país de dimensões continentais, a vida sobre rodas se torna necessária para a efetiva integração de cada rincão, do Oiapoque ao Chuí. E oportunistas surgem disso. E além dos acidentes (que inevitavelmente vão ocorrer, questão de probabilidade) assaltos, sequestros e assassinatos, são crimes frequentes na vida do caminhoneiro.
Transportar cargas de R$200.000, R$500.000, R$ 1 milhão ou mais por todo o Brasil, é algo bem arriscado. Mas riscos e estatísticas são irrelevantes e quando se tem que encher o prato da família em casa, faz-se o que deve ser feito, e esperar o abraço e o beijo da mulher e filhos na curta estadia em casa, a espera do próximo frete.

***

Passando na entrada de Aracati, de onde se deve tomar a van até Canoa Qubrada, analisando meus 2 reais no bolso. E que já estava de noite, desisti. Se eu não encontrasse um caixa eletrônico em Aracati, poderia nem conseguir ir para Canoa naquela noite.
Decidi ir até Fortaleza.

Chegando em Fortaleza o cara parou o caminhão, e tentou desenrolar com uma puta, eu havia lhe falado que nao toparia essa empreitada, e que caso a negociação se efetivasse, eu esperaria do lado de fora do caminhão. A puta não fez o preço que ele queria, não tive que esperar do lado de fora e seguimos até o Posto Menino Jesus III. Longe pra burro do centro de Fortaleza.
- moleque, voce tem como fazer alguma ligacao aí?
- nao cara, perdi meu cartao, meu celular ta sem bateria e mesmo se tivesse com, estou sem credito.
- beleza, fica com esse cartao aqui, ta cheiinho, 40 unidades. quando eu tiver por minas, voce me mostra um puteiro massa.

Agradeci a boa vontade. E fiquei na de mostrar o puteiro massa pra ele em Muriaé, tentei explicar que é bem complicado essa associação por lá, mas ele insistiu, e assim ficou acordado.

***

Cheguei no posto, que é uma parada de pernoite de caminhões, e fui recebido pelo segurança com o cacetete em punhos:
"pode sair! pode sair! que tu ta querendo??"
Mais uma vez, expliquei toda a história para ele, e que precisava de um orelhão para tentar localizar um amigo em Fortaleza.

Ele nao acreditou muito. Ainda pensou que estava ali para assaltar os caminhoneiros.
A área é bem perigosa. E é comum assalto e sequestros a caminhoneiros ali.

Tentei muitas vezes localizar o André e nada. O maluco não tem celular!
O Moura estava em São Paulo pro show do Coldplay, e foi quem ia me ajudando a localizar o André em Fortaleza. Me passava uns numeros provaveis, e ligava pro numero do orelhão do posto me informando de um provável paradeiro do André.

Nessa hora, o segurança já começou a acreditar (e ter um pouco de pena).
"mas menino, você não é muito doido, pra sair por aí, sem dinheiro, longe demais da sua casa? eu? eu nao faria isso nunca... tá dooido."
E me contou, que nunca tentou carona. Nunca. Que era uma coisa dele, e me contou que uma vez quando morava no Rio, no Parque Bela Vista, escutou sobre uma construtora que estava empregando no Leblon. Sozinho, com força e sem dinheiro, seguiu a pé em busca do trabalho. Cruzou praticamente todo o Rio, saiu as 5h da manhã, chegou lá as 16h da tarde.
Perguntou sobre o emprego. E era verdade (sim até então era só um boato). Conseguiu o emprego. Porém só começaria no dia seguinte. Olhou para os lados pra ver se conhecia alguem para pedir dinheiro emprestado, e nada. Teve que voltar a pé também. Para trabalhar no dia seguinte as 6h da manhã.
Estou contando essa história, porque no momento me marcou. Escutar alguém que antes me via como um assaltante, e depois teve a confiança para se abrir, e contar passagens da sua vida. E mais uma história de sobrevivência de tanta gente como a gente.

***

Consegui falar com o André:
- Maxu tu tá longe que só a porra! Aí é perigoso pra caralho... Tô sem carro, senao eu ia aí te buscar. Peraí que vou ver com algum amigo, e te ligo.

O segurança me recomendou nao ir pegar onibus nessa hora, já que teria que caminhar um pouco, e ficar numa área mais urbana, mais perigosa do que onde eu estava.
Solução, ou esperar algum amigo do André, ou dormir por ali, esperar amanhecer e seguir no busao. Com meus 2 reais.

Me disse que nao teria problema se eu dormisse por ali, mas teria que sair cedo, já que já tiveram problemas com gente que pernoitaram ali. Ele confiava em mim, mas os caminhoneiros que me vissem ali, provavelmente não. Então me acordaria as 5h da manhã para que eu seguisse rumo ao centro.

O André ligou:
"Maxu, meus amigos tao com medo de ir aí essa hora, dorme numa pousada aí perto, que amanha eu te dou o dinheiro..."
Ah poderia ir para uma pousada, mas nem, preferi ficar por ali, o papo estava bom.
Fui para a sala de TV, abri o saco de dormir, e fiquei por ali vendo Big Brother (a segunda vez que via, a outra vi em Ponte Nova na casa da Denise) até pegar no sono.
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